sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sala São Paulo

* Graduando em Arquitetura e Urbanismo


Um projeto de uma sala de concertos já poderia ser difícil por si só, mas esse trabalho pode tornar-se ainda mais complexo quando essa sala precisa ser instalada em um edifício histórico, tombado, ao lado de uma linha de trem que produz vibrações no solo bastante significativas. Esse foi o universo com o qual Nelson Dupré e toda a equipe de arquitetos, engenheiros e engenheiros acústicos tiveram que lidar para que o projeto da Sala São Paulo pudesse ser concluído.


Originalmente, o edifício no qual a sala encontra-se instalada, foi projetado para ser uma estação de passageiros da antiga estrada de ferro Sorocabana. Projetada pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves; o surgimento da estação está intimamente ligado ao processo de crescimento econômico do café. Entretanto, depois de muito tempo, a estação foi perdendo seu prestígio e acabou se tornando apenas mais um edifício desocupado no centro da cidade de São Paulo. Abaixo, a imagem mostra a sala em 1951.



Mas depois de um longo período de esquecimento, em 1997, o governo do estado de São Paulo decide tornar o prédio em uma sala para servir como sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Um projeto é pedido para o arquiteto Nelson Dupré que, magistralmente, passa a trabalhar no projeto que poderíamos considerar sua obra-prima.

A sala é pensada para ocupar o lugar do jardim central da antiga estação, que possui medidas muito similares às de muitas outras salas em estilo shoebox ao redor do mundo. Isso favorece muito para a acústica da sala. No mesmo sentido, o concreto (material usado na construção da estação) também colabora para uma melhor reflexão sonora. Todas essas pré-existências somadas aos trabalho de restauro e intervenção de Dupré, fizeram da Sala São Paulo uma das melhores salas de concertos do mundo, com um nível de qualidade acústica inigualável.  

As intervenções na Estação Júlio Prestes caminham no sentido de se distinguir os elementos ecléticos dos elementos atuais, evidenciando todas as intervenções contemporâneas. Dessa forma, o arquiteto usa de materiais como o aço, o vidro, o concreto e a madeira clara, todos desenhados de forma a evidenciar essa diferença.  “A opção por um desenho com linhas retas é uma resposta à arquitetura da estação, repleta de elementos curvos.” É o que diz Nelson Dupré. São as linhas retas que conferem equilíbrio ao prédio reformulado. É preciso respeitar as qualidades da arquitetura original, sem que a nova arquitetura impeça uma leitura inteligente do espaço como novo e antigo.


A foto acima, mostra como era o jardim, antes da intervenção em 1997. É importante fazer uma comparação entre o caminhão que recolhe a terra e a ordem de colunas monumentais nas faces do jardim, para perceber a escala monumental dessas colunas.


Uma das soluções mais inovadoras que a Sala São Paulo trouxe foi o forro ajustável. Aqui, nesse projeto, é utilizado pela primeira vez no mundo um forro móvel que controla o volume da sala de acordo com o uso. Por exemplo: se uma orquestra filarmônica vai se apresentar com um coro, para que a acústica seja agradável, o volume da sala não pode ser o mesmo de quando um quinteto de cordas de apresenta. Para que isso seja resolvido, nove painéis centrais e sete painéis laterais são dispostos por toda a cobertura da sala, para que cada espetáculo possa ter seu volume adequado.




Os balcões laterias possuem um desenho bastante dinâmico que contribui para que o som seja “espalhado” pela superfície. Da mesma forma, todas essas soluções tornam esse projeto um dos mais bem sucedidos projetos para salas de concerto do mundo. São atitudes projetuais inovadoras e criativas que respeitam o antigo e agregam valor com o novo. Abaixo, segue um vídeo bastante interessante sobre todo o processo  de construção da obra.



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