terça-feira, 6 de agosto de 2013

Manuel Bandeira: estrela da vida inteira

* Jornalista e escritor
Manuel Bandeira é, sem dúvida alguma, um dos maiores nomes da poesia nacional. Ao longo de seus 82 anos de idade deixou uma extensa obra, entre poesia, crítica literária e de arte e traduções. Considerado um dos principais nomes do Modernismo brasileiro, seu poema “Os Sapos” foi o cartão de visita da Semana de Arte Moderna de 1922.

Pernambucano de nascimento, soma-se a outros conterrâneos seus numa produção literária de peso nacional, como João Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freyre, Nélson Rodrigues, Carlos Pena Filho e Osman Lins, entre outros.

Iniciou o curso de Arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo, mas logo o abandonou por conta de uma tuberculose. Esse episódio marcou fortemente sua poesia, como podemos observar no poema “Pneumotórax”: “Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos./ A vida inteira que podia ter sido e que não foi./ Tosse, tosse, tosse.”.

De estilo simples (mas não simplista) e direto, Bandeira foi, com certeza, o mais lírico dos poetas, abordando temáticas cotidianas e universais, com abordagens que se aproximam do que poderíamos chamar de “poemas-piada”, relacionando-se com formas e motivações por muito “acadêmicos” consideradas vulgares. Para estes, deixa um recado: “Abaixo os puristas/ Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais/ Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção/ Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis/ Estou farto do lirismo namorador”.

Esse diálogo que mantém entre tradição e experimentalismo, entre erudição e a simplicidade terão vazão em poemas como “Trem de ferro” que, ao brincar com as palavras, trata-as quase como “algo ingênuo”, pueril, mas de um vigor poético intenso. Ou, ainda, em um “Poema tirado de uma notícia de jornal” que, como o próprio título antecipa, nasceu de leituras do cotidiano, das experiências mais incipientes, conduzidas para um texto que atravessa gerações.

Se a poesia é música em silêncio e a música é poesia que fala, alguns poemas de Bandeira não se satisfizeram ficar somente no papel e foram parar na boca de intérpretes como Moraes Moreira (Como foi que temperaste,/Portugal, meu avozinho,/ Esse gosto misturado/ De saudade e de carinho?); Maria Bethânia (Aqui faz muito calor./ No Nordeste faz calor também./ Mas lá tem brisa:/ Vamos viver de brisa, Anarina.) e Paulo Diniz (Vou-me embora pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei).


Nesta sexta (09/08), a partir das 19h30, no Teatro Municipal Castro Alves, rua Duque de Caxias, 29, Centro (Funda da Tanger, em Araçatuba), teremos um sarau literomusical promovido pela Academia Araçatubense de Letras e seu Grupo Experimental para homenagear este grande poeta. Você está convidado a usufruir deste momento único, sobretudo para nós, do interior.

Forte abraço e até lá.


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