sábado, 31 de agosto de 2013

ESCREVER POEMAS COM POESIA

*Escritora, membro da União Brasileira de Escritores e da Academia Araçatubense de Letras

Folheando a revista da UBE, “O Escritor”, do mês de agosto, cheguei a um artigo muito belo e providencial para todos os que gostam de poemar: uma carta do poeta Manoel de Barros, enviada à poetisa (ou poeta?) Raquel Naveira, cujo teor era a análise que ele fizera de alguns poemas dela, talvez nos anos 1970, conforme entendi.


Reproduzo aqui o que mais me encantou nas palavras desse poeta maior:

"É preciso colocar o leitor desde o primeiro verso, se possível, ou desde a primeira estrofe, dentro da supra-realidade. É preciso que se implante a mágica. E mágica, em poesia, você sabe, é com metáfora que a gente implanta. Ou com música. Sei lá, um mistério desses.

Noto ainda que você dá mais importância aos sentimentos do que às palavras. Aos movimentos do coração mais que os da inteligência. Você tem um mundo interior muito bonito e se empolga com ele, esquecendo um pouco o verso, essa unidade rítmica do poema. Sinto que você quer se contar e muitas vezes, para isso, se derrama quase prosaica. Eu acho que a gente tem obrigação de escolher as palavras ou, pelo menos rejeitar algumas que soam feias (...) Eu evitaria alguns lugares-comuns como estes: Desejos frustrados; reflexos prateados; alegria de viver; sonhos inatingíveis etc. Lugar-comum é esclerose da língua. Poeta tem como função descobrir novas relações para as palavras (...) elemento construtivo do verso é o ritmo. Verso é o mesmo que uma construção fônica (...) O seu mundo interior é fascinante, mas não se empolgue muito em contá-lo. O fazer poético é que torna o poema durável. Não é seu assunto. Todos os assuntos já foram ditos. Mas eles só ficam na terra se fundados, inventados de novo pela linguagem, transfigurados." E termina: "Gosto mais das coisas que entendo. Principalmente gosto daquelas que eu entendo de diversas maneiras. A ambiguidade é que abre o poema para todos os entendimentos".

Confesso, ainda não conheço os poemas de Raquel Naveira, mas por leituras sobre ela sei que pertence à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e é diretora da UBE. Tenho certeza de que as palavras de Manoel de Barros atingiram Raquel Naveira, muito mais do que a mim, principiante nos escritos, e por certo ampliaram suas possibilidades de poetar com mais segurança pelos caminhos da poesia. Quero lê-los porque da poesia de Manoel de Barros já sou leitora assídua.  

Por tudo isso, atrevo-me a mostrar-lhes o que penso sobre a arte de poetar, não sem antes pedir licença aos que entendem disso muito mais que eu.

Construindo um poema

Senta-te sobre a fala
e cala
para ouvir o pensamento teu.
Cultiva o silêncio
o momento
o deserto da emoção.
Busca em tudo,
insiste
sem projetos,
mas com razão.
Sente os desejos
da descoberta...
do medo...
do pejo.
Segreda (sempre para ti)
teus sonhos,
teus amores,
teu universo.
No trabalho artesanal,
a palavra ecoa
compõe a melodia
e penetram outro espaço
num abraço.

Poesia?
Desafio você a pensar: o que é poesia? Como fazer poesia?

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