segunda-feira, 15 de julho de 2013

Quando a música ultrapassa fronteiras - Musibraille

*Formada pelo Conservatório de Tatuí, professora e regente de coral
Hoje vamos falar um pouco sobre o ensino de música para cegos. Tive duas experiências maravilhosas no ensino da música com dois alunos DV’s (deficientes visuais). Uma aluna estudou canto popular e, posteriormente, canto lírico comigo; e outro aluno estudou teclado. Ambos com excepcional habilidade, percepção apurada e muito talento.

Quando lecionei para eles, não tinha conhecimento sobre o projeto Musibraille, e usei de metodologias convencionais, usadas para todos os alunos. Como? Tocava para eles e eles memorizavam a música e suas posições - no caso do aluno de teclado - e, no caso do canto, decorava-se a letra da música e sua melodia.

A capacidade de memorização dos deficientes visuais e a rapidez como registram as novas informações é extraordinária. Tive inúmeras experiências durante as aulas que, não somente os ensinou, mas, com certeza, trouxe a mim um grande aprendizado a respeito do ensino musical, superando dificuldades. 

Alunos tendo aula de música em Braille
Então vamos conhecer um pouco do sistema Braille para cegos.

Sabemos que o meio de comunicação escrita para deficientes visuais é o sistema Braille. Esse sistema foi criado na França, em 1824, por Louis Braille. No Brasil, foi adotado a partir de 1854, trazido por José Alvarez de Azevedo.

Existe um projeto chamado Musibraille que cria condições adequadas à aprendizagem musical das pessoas com deficiência visual, que sejam equivalentes às das pessoas de visão normal. A escrita musical seria algo impossível para cegos, ou seja, ler uma partitura musical - estudá-la e tocá-la ou cantá-la. Mas graças a Musicografia Braille podemos escrever música para cegos. É uma das principais ferramentas que permitem essa equivalência.

Por meio desta técnica, um texto musical de qualquer complexidade pode ser transcrito para a forma tátil e facilmente assimilada pelos deficientes visuais. São seis pontos em relevo, distribuídos em duas colunas (três pontos à esquerda e três pontos à direita) que formam 63 combinações, com as quais são representados os símbolos literais, fonéticos, matemáticos, químicos, informáticos e musicais. O mesmo sinal pode representar informações diferentes, dependendo do contexto em que está inserido. Cada sinal (sinal simples) pode ser combinado com outro sinal, podendo resultar na combinação de até quatro sinais diferentes (sinais compostos).

Relação de notas musicais e a transcrição para Braille

Nesse vídeo, é possível ver um menino cantando a partir do sistema de Braille, fazendo a leitura da partitura para a música “O cravo brigou com a rosa”, e vários outros depoimentos e exemplos dessa escrita: 


Não poderíamos falar de escrita musical em Braille sem falar de José António dos Santos Borges. Ele é coordenador dos projetos de Acessibilidade do NCE/UFRJ. Informático, com mestrado e doutorado em Engenharia de Sistemas pela COPPE-UFRJ, ele trabalha desde 1974 no Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e atua em diversas áreas, como projeto de sistemas operacionais, sistemas CAD para eletrônica e microeletrônica, computação gráfica, multimídia e síntese de voz e computação para pessoas com deficiências. Ele foi um dos mentores do projeto INTERVOX, que levou os primeiros 500 cegos a usarem a internet no Brasil e do projeto HABILITAR, que treinou cegos e tetraplégicos para atividades profissionais em suporte de redes.

O software MUSIBRAILLE foi lançado em 2009 – primeiro software em português que pode transcrever partituras musicais para o Braille. Ele foi criado pela professora Dolores Tomé, juntamente com os professores José Antonio dos Santos Borges e Moacyr de Paula Rodrigues Moreno – todos do Núcleo de Comunicação Eletrônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) como uma saída para levar o ensino de música para os cegos, pois os softwares similares feitos no exterior eram sofisticados e/ou caros demais para a realidade nacional.

Nesse vídeo, temos a fala de José António dos Santos Borges no lançamento do Musibraille: 


Aqui, uma reportagem exibida no Jornal Nacional em 08/07/2009 sobre o programa Musibraille, quando aconteceu o seu lançamento:


Vamos conhecer um pouco da história de um músico que, particularmente, aprecio muito e que será nossa inspiração para entendermos melhor a importância de facilitadores para o aprendizado de pessoas deficientes: 

Andrea Bocelli. Ele nasceu na cidade de Lajatico (Itália), em 1958. Cresceu na fazenda da família, a cerca de 40 km da cidade de Pisa. Desde o seu nascimento, foram detectados evidentes problemas de perda de visão, diagnosticado com glaucoma. Quando Bocelli tinha doze anos, em uma partida de futebol, foi atingido na cabeça e perdeu definitivamente a visão. 

Ainda na infância, Andrea apaixonou-se pela música e sua mãe costumava dizer que era a única coisa que o consolava após a perda completa da visão. Aos seis anos de idade iniciou suas aulas de piano e depois de flauta, saxofone, trompete, harpa, violão e bateria. Também tocava órgão na igreja próxima à sua casa, aonde ia todos os domingos com a avó. 

Andrea formou-se em direito e trabalhou como advogado durante um ano. Após ter aulas com o maestro Luciano Bettarini, largou a advocacia e dedicou-se à música em tempo integral. Ele foi casado com Enrica, com quem teve dois filhos: Amos e Matteo.

Após conhecermos um pouco da história desse famoso músico de nosso tempo, vamos apreciar sua música. Acredito que todos conhecem a Con Te Partiro, que ele canta com Sarah Brightman, mas desejo compartilhar outra canção de que gosto muito: Bridge Over Troubled Water


Gostaram? Então aqui vai outra dica: Ouçam I Believe, que ele canta com Katherine Jenkins. É maravilhosa!

Até a próxima semana, queridos! 

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