segunda-feira, 29 de julho de 2013

JOSÉ DOMINGOS DE MORAIS - SUA SANFONA E SEU TALENTO

*Professora de música e regente de coral formada pelo Conservatório de Tatuí
Essa semana, faremos uma pausa em nossa conversa sobre Musicais e Ópera para falar de um músico brasileiro, instrumentista, cantor e compositor de talento inquestionável, reconhecido no Brasil e no exterior: José Domingos de Morais. Para nós, o Dominguinhos.

Desde o final de 2012 ele apresentava problemas de arritmia cardíaca e respiratórios. Travava uma batalha contra um câncer de pulmão havia seis anos.

Foi internado no Recife, mas transferido posteriormente para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde entrou em coma. Chegou a ter uma melhora, saindo da UTI e ficando com seu quadro clínico estável, mas em 23 de julho desse ano, semana passada, ele faleceu, deixando seu talento e brilhantismo gravados na história da Música Popular Brasileira.

Sua humildade ressaltava ainda mais seu talento, sendo admirado por seus amigos e companheiros de trabalho. Nas palavras de seu filho, Mauro da Silva Moraes, numa entrevista dada ao UOL, ele diz o seguinte sobre seu pai: “Meu pai não tinha defeito, não! Eu só guardarei coisa boa dele; era generoso demais”. 

Ele nasceu em Pernambuco, na cidade de Garanhuns, em fevereiro de 1941. Seu pai, o mestre Chicão, era um sanfoneiro requisitado por sanfoneiros por seu talento como afinador de sanfonas. 

Desde cedo, Dominguinhos se interessou por música e, com a influência de seu pai, aos seis anos de idade começou a aprender sanfona.  Apresentava-se em feiras livres e portas de hotéis, e assim conseguia ganhar algum dinheiro, juntamente com seus dois irmãos, para ajudar a família, muito humilde.

Dominguinhos e o mestre Gonzagão

Era muito estudioso e dedicava-se ao instrumento aplicadamente e, com isso, tornou-se músico profissional ainda garoto. Aos nove anos de idade conheceu Luiz Gonzaga, que ficou impressionado com sua destreza na sanfona.

Aos treze anos de idade ele partiu para o Rio de Janeiro com seu pai e seus dois irmãos, a convite de Luiz Gonzaga. Quando chegou no Rio, estabeleceu-se em Nilópolis. Assim que encontrou Luiz Gonzaga ganhou dele uma sanfona e um emprego. Estabelecia ali o início de sua carreira como músico integrante à equipe de Luiz Gonzaga.

A partir desse momento, com integração à equipe de Luiz Gonzaga, ele ganha reputação e, como músico arranjador, traça novas amizades e aproxima-se do movimento Bossa Nova. Fez trabalhos com músicos renomados como Gilberto Gil, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Toquinho e muitos outros.

Dominguinhos teve três casamentos. Mauro, o que concedeu a entrevista ao UOL, é seu primogênito, filho de seu primeiro casamento. Seu segundo casamento foi com a cantora de forró Anastácia, com quem estabeleceu uma parceria artística de onze anos. Guadalupe Mendonça, outra cantora, foi seu terceiro casamento, do qual nasceu sua filha Liv. Eles se separaram, mas Guadalupe e Dominguinhos mantiveram a amizade até sua morte. 

O talento de Dominguinhos ultrapassou as fronteiras dos estilos musicais. Sua criatividade englobou gêneros musicais diversos, passando pela Bossa Nova, jazz e pop, além, é claro, de seu forte reconhecimento como músico do forró e baião. 

     
Tanto em parceria com músicos cantores, quanto com instrumentistas, teceu sua carreira entre os mais renomados nomes da música popular brasileira. Em 2008, Dominguinhos lança em parceria com o violonista Yamandu Costa o seu último álbum: “Yamandu + Dominguinhos”.



Sua carreira está repleta de prêmios, entre eles: o prêmio Grammy Latino, com o álbum "Chegando de Mansinho" (2002. Em 2006, ele levou o Prêmio Tim como Melhor Cantor Regional e, em 2010, ganhou o Prêmio Shell de música.

Perdemos esse mês, aos 72 anos de idade, mais uma joia de rara beleza em nossa história musical brasileira, mas que deixa ensinamentos de novos horizontes e possibilidades na criação musical como legado aos novos músicos. Certamente suas canções serão ouvidas em todo o futuro que temos pela frente e essa é mais uma dentre tantas belas histórias de trabalho e dedicação de nossos talentosos músicos brasileiros.

Dominguinhos soube apreciar e valorizar nossas raízes e nosso jeito de ver e sentir nossa terra, e traduziu isso dignamente para sua obra. 


Vou compartilhar com vocês uma música dele, em parceria com Nando Cordel, que faz parte das minhas músicas favoritas. Impressiona-me a delicadeza da letra e música e a descrição exata dos sentimentos que temos em nós, em saudades e reencontros. 


"De volta pro meu aconchego" - Música e letra de Dominguinhos e Nando Cordel

Até a próxima semana!

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