O DOCE QUE ERA MAIS DOCE!

*Professor universitário e mestre em Turismo e Hotelaria

Lembro-me, quando criança, das festas juninas da escola, repletas de bandeirolas coloridas, barraquinhas de comidas e muitas outras atrações. Os vários doces encantavam a criançada e, nos fogos de artifício, quanta emoção e perigo! A ansiedade tomava no encontro de um par para dançar a quadrilha e nos inúmeros ensaios que precediam a festa. "Quem será o noivo?", era a grande expectativa da turma! A fogueira, quão grande era... e as brincadeiras - pescaria, bola na lata, correio elegante... - ressaltavam as traquinagens da molecada, que muito se divertiam com as bombinhas e “traques”. Naquela época, soltar balões ainda não era crime, imagine só!!!

Em meio a tanta alegria e festança, os doces sempre saltam ao olhar! Coloridos e perfumados de açúcar, atraem não somente as formigas e abelhas ao derredor, também nos fazem pensar em guardar um espacinho do estômago para se regalar com eles.

“O doce perguntou pro doce: Qual doce era mais doce? O doce respondeu pro doce que o doce mais doce era o doce de batata doce.” Este popular doce junino, mencionado no trava-línguas também é conhecido no Brasil como marron-glacé, que tem sua origem na adaptação de um refinado doce clássico francês e italiano feito com castanha cozida glaçada (mergulhada em calda de açúcar). Em terras tupiniquins, aprendemos com os índios usar os tubérculos como ninguém; a mandioca deu origem às farinhas de diferentes texturas e as batatas são preparadas e servidas de muitas maneiras.

A lista dos doces juninos é enorme e a base está alicerçada na rica culinária de Minas Gerais. As “quitandas”, assim denominadas por lá, são todos os quitutes servidos no café da tarde ou da manhã; chamadas de "merenda" no Norte e Nordeste,  e de "café colonial" nos estados do Sul, porém com grande diversidade e considerando os ingredientes mais abundantes em cada região.

O doce de leite, o pé de moleque, o arroz doce, a pamonha, a canjica, o bom-bocado, a queijadinha, entre outros compartilham de ingredientes comuns (leite, coco, milho, amendoim, queijo etc.) e o sabor, huuumm, quanta diferença... Acho tudo isso incrível!

Um outro detalhe são os nomes que mudam de acordo com o regionalismo: a canjica paulista é conhecida no Norte e Nordeste como mungunzá, e o que eles chamam por lá de canjica é, para nós paulistas, o curau feito de milho verde, leite ou água.

E para beber não vai nada? Quentão e vinho quente são os carros-chefes da festança! Para esquentar o corpo, a alma e o espírito o quentão, ao ser fervido, espalha no ar um cheiro doce e picante, proveniente do açúcar queimado, combinado ao gengibre e à cachaça, atiçando os frequentadores das festas juninas. Esta bebida de alto valor calórico teve sua origem no interior dos estados de São Paulo e Minas Gerais, onde a cana de açúcar tornou-se a principal cultura. Há também a versão sem álcool, porém trata-se apenas de um chá de gengibre. Os ingredientes do quentão são: cachaça, água, açúcar, gengibre, cascas de laranja, casca de limão, cravo e canela em pau.

Não há muita informação sobre o vinho quente, além das variadas receitas e invenções criativas que vemos sempre por aí. Entretanto, o aroma de especiarias, caramelo, frutas e vinho, ao abrir fervura, espalha pelo ar um doce e afrodisíaco perfume. Acredito ter sua origem concebida pelos descendentes espanhóis, com suas receitas refrescantes da “sangria”, que ao pensar em uma alternativa quente para as festas de junho no Brasil, aqueceu a adorável mistura. A receita compõe vinho tinto, água, açúcar, maçãs picadas em cubos, abacaxi (ou outra fruta que tiver em casa), cravo e canela.

Outras bebidas encontradas no "arraiá" são: o chocolate quente e o suco de milho verde, muito adocicados. Não se esquente pensando nas calorias ingeridas numa festa junina, apenas aproveite o momento e as delícias nela encontrada, depois você se recupera fazendo exercícios e maneirando na alimentação do dia seguinte! Em qual festa você vai esse ano? Deixe sua indicação nos comentários!

Boa festança e até a próxima semana!