segunda-feira, 10 de junho de 2013

LEK'S LEK'S E NAZARETH

*Formada pelo Conservatório Musical de Tatuí, professora e regente de coral
Hoje eu quero conversar sobre André Mehmari e sua experiência musical ocorrida na cidade de Campinas. Vamos primeiramente relatar um pouco de sua carreira musical para o conhecermos melhor.

Ele é autor de composições e arranjos para algumas das formações orquestrais e de câmara mais expressivas do País, como Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Quinteto Villa-Lobos, Orquestra Sinfônica de Brasília (OSB), Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, entre outros. Como instrumentista, já atuou em importantes festivais brasileiros como Chivas, Heineken, Tim Festival e, no Exterior, como Spoleto (USA) e Blue Note (Tokyo). A discografia reúne oito Cd’s solo. Recebeu duas vezes o Prêmio Nascendte (USP - Editora Abril), na categoria Música Popular-Composição, com os temas De Sol a Sole Capim Seco (1995), e na categoria Música Edudita - Composição, com Cinco Peças para Quatro Clarinetes e Piano (1997). No ano seguinte, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Visa de MPB instrumental com a composição Omaggio a Berio, baseada na música do compositor italiano Cláudio Monteverdi (1567-1643), venceu o concurso nacional de composição Camargo Guarnieri (2003), promovido pela Orquestra Sinfônica da USP. Em duo com Ná Ozzetti, lançou Piano e Voz, considerada pela crítica uma obra-prima e vencedor do prêmio Carlos Gomes de música erudita brasileira na categoria revelação do ano. Em 2007, lançou Contínua Amizade (vencedor do Prêmio Rival/Petrobras na categoria instrumental) e Gismontipascoal (Prêmio da Música Brasileira). Com o álbum Nonada (2008), foi indicado ao Grammy Latino. Em sua página no facebbok, vocês poderão conhecer detalhes de sua carreira e o ocorrido, na data de 25 de maio (registro do face): https://www.facebook.com/andre.mehmari 

No dia 14 de maio de 2013 André Mehmari participou como músico convidado em um Projeto da cidade de Campinas intitulado Ouvir para Crescer.  Esse projeto é destinado a estudantes da rede pública e tem como objetivo facilitar ao público carente o acesso à música e ao teatro. Na ocasião estavam presentes cerca de 600 pré-adolescentes com idade de 10 a 12 anos.

Em sua primeira parte, o programa contava com atores que se apresentavam vestidos como palhaços e, de maneira divertida, falavam sobre as características da linguagem musical. Em seguida, era a vez de André subir ao palco e, por meio da obra de Ernesto Nazareth, fazer os links culturais, musicais para os quais ele tem eficiência e experiência para realizar.

Enquanto ele explanava sobre a obra do compositor escolhido para o momento, antes mesmo de sua execução ao piano, começaram os xingamentos pesados, intensivos e que foram aumentando e multiplicando enquanto ele falava. Atônito, mas sem perder sua essência de educador e músico “fazedor” de cultura, continuou sua explanação e a execução de obras de Ernesto Nazareth até o final.

Ele fala, em entrevista dada ao Correio sobre o acontecido: “Fiquei profundamente chateado com os xingamentos vazios e irracionais, pois eu nem tinha começado a tocar. Ali no palco, não vi ninguém intervindo quanto a isso. Talvez fosse preciso um preparo melhor desses jovens e turmas menores também. Parecia-me que havia poucos professores e monitores para tantos alunos. Quero deixar claro que não é uma crítica ao projeto, muito pelo contrário, acho pertinente e de suma importância. O primeiro dia (9 de maio) foi muito bom e fiquei muito contente de ter sido chamado para participar novamente, porém, o resultado foi uma experiência muito dolorosa.” 

Em tempos de intolerância, impaciência e até mesmo violência contra o que é diferente a mim, aversão com aquilo que não posso compreender ou explicar, vemos atônitos, “crianças” em um comportamento preconceituoso, julgador e, pior, que incita a rebelião ignorante.

Para todos nós é difícil o entendimento do outro, do diferente, daquilo que nada tem a ver com o meu mundo, mas é inadmissível o desrespeito, a agressividade para com o meu próximo.

Infelizmente pais, mães, famílias inteiras têm transferido para a escola aquilo que é tarefa primordial do lar: trabalhar o caráter, a educação, o bem viver.

Uma coisa que notei no relato do músico é que não houve intervenção dos organizadores, pois nenhum dos responsáveis estava no palco no momento da apresentação, como o próprio pianista relata.

Onde estavam essas pessoas que, a meu ver, deveriam estar ali, deleitando-se gratuitamente com uma aula tão maravilhosa? Talvez na mesma posição dos alunos agressivos da plateia, mas exteriorizando sua agressividade e ignorância de outra maneira: com desdém, com desprezo ao artista e sua arte.

Vivemos em um País onde a cultura é desprezada, onde a educação é ignorada descaradamente, onde a "música da moda" é aquela comercial, que não faz pensar, a que coloca meninas como "cachorras" com suas carnes expostas numa "vitrine de promoção". Perplexos, lembramos Legião Urbana: “Que País é esse?”. A questão básica é: se você gosta do lek lek e da cachorra, muito bem, mas respeite meu Nazareth! Ouça-o antes de revirá-lo no túmulo com seus xingamentos. Acredito funcionar assim a liberdade de expressão. Respeito é a essência da convivência. 

Que sociedade é essa? Que famílias brasileiras nós temos? Há de se pensar seriamente em tudo isso. Com toda essa ignorância e falta de “modos” a violência vem crescendo assustadoramente, dia a dia. O que aconteceu com esse músico brasileiro nada mais é do que tem acontecido com professores em salas de aula. Professores que apanham e vivem hostilizados por “crianças”. Também podemos dizer o mesmo sobre mães e pais que, indagados, nos respondem: “Eu não dou conta desse menino!”.

Lembro-me do meu período escolar: se chegasse à minha casa uma reclamação da escola sobre o meu comportamento: ai, ai, ai, de mim! Fiquei traumatizada? Não! Tornei-me educada! Tornei-me alguém que aprendeu a respeitar o outro, a forma diferente do outro, a cor diferente do outro, a vida diferente do outro.

Antes de discutirmos processos didáticos e enfiarmos “goela abaixo” desses meninos e meninas algo que eles não entendem, precisamos reavaliar os relacionamentos família e filhos/professor e aluno. Precisamos definir as linhas de atuação, precisamos, como educadores e pais, “vestir a camisa” dessa luta para um País melhor para todos nós, inclusive para essas crianças, adolescentes e jovens. Precisamos de famílias que ensinem seus filhos a respeitar ao próximo. Precisamos de educadores que gostem de leitura, arte e música, que apreciem o conhecimento e desejem incutir em seus alunos muito mais que letras, números e fórmulas,: CIDADANIA!

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