sábado, 29 de junho de 2013

DESCRIÇÃO - A ILUMINAÇÃO DO TEXTO

*Escritora, membro da União Brasileira de Escritores - UBE e da Academia Araçatubense de Letras - AAL

Ao encontrar, em minha estante, um livro didático, “Flor do Lácio”, editado em 1964, de Cleófano Lopes de Oliveira, ilustre professor paulistano da época, tive a curiosidade de folheá-lo para tentar reconhecer o ensino de então, hoje citado como clássico e obsoleto. 

Devo confessar que me surpreendi com a riqueza dos textos ali apresentados, o cuidado com a seleção de trechos que fizeram o repertório lítero-cultural de tantos jovens daquela década. Foi por meio daqueles excertos que entramos em contato com as mais preciosas composições literárias de renomados autores brasileiros. 

O que mais me chamou a atenção, porém, foi o capítulo sobre a descrição, método utilizado para situar o leitor no contexto do objeto tratado pelo escritor. Sobre o assunto, diz em seu livro, o ilustre mestre:

“A finalidade precípua da descrição é fazer ver e sentir, o que exige de quem escreve as mesmas qualidades indispensáveis à arte e à pintura.”

Em outro trecho diz:

“A descrição não pode deter-se em minúcias inúteis ou desinteressantes, nem abandonar dados essenciais, que se devem procurar pela observação e pela imaginação”.

A inclusão de descrições no texto já atormentou e  continua a atormentar estudantes e escritores, por ser ponto obrigatório da literatura, tanto em prosa quanto em versos.

Muitas vezes encontramos textos repletos de frases, expressões ou palavras descritivas que não dizem nada, totalmente desprendidos do contexto focalizado, sem função específica de dar luz ao entendimento que se quer do leitor. Por isso, faz-se necessária a cuidadosa seleção de vocabulário, de adjetivos, de figuras literárias, tudo com uma fineza de intenções que levem a esse leitor sensibilidade para entender a intenção do autor do texto. Por exemplo, se nós escrevermos que uma paisagem é linda, nada diremos porque esse adjetivo pode reportar o leitor para a paisagem que ele tem por “linda” e não à paisagem que o autor do texto deseja descrever. Mas este exemplo é apenas um grão de areia na praia das descrições que margeiam textos por aí. 

Ainda diz o renomado professor: “A descrição é um gênero que tem cabimento em todos os demais gêneros literários, neles aparecendo sob diferentes formas: energia - pintura viva e rápida de uma situação; retrato físico ou moral - reprodução das feições ou do caráter duma pessoa ou dum animal; cronografia – descrição das circunstâncias do tempo em que sucedeu um fato; topografia – indicação das particularidades de um lugar.”

Portanto, descrever é um processo que depende de conhecimento vocabular, relações explícitas das palavras que compõem a frase, escolha adequada de figuras literárias, coerência entre  texto e contexto, concisão, objetividade, clareza das expressões descritivas. Tudo isso e muito mais estudos e conhecimento da língua com que se expressa o escritor darão a ele oportunidades de distribuir luzes pela sua composição literária.

E o leitor, por certo, agradecerá.                                       

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