domingo, 19 de maio de 2013

SLOW FOOD, tendência na contramão

*Professor universitário e mestre em Hotelaria e Turismo



                Com o corre-corre agitado dos dias atuais, pouco tempo nos resta para realizar uma alimentação de qualidade. Quase sempre comemos algo ali mesmo, na lanchonete da esquina, na padaria do bairro ou próximo ao trabalho, na cantina da escola ou no carrinho de lanches em frente à faculdade, até mesmo durante o trânsito uma barrinha de cereais encontrada no fundo da bolsa que converta o estresse em energia para aguentar o expediente até o fim.

                Esta rotina gerou uma categoria no mercado de alimentação conhecida por “fast food” (comida rápida), oriunda dos Estados Unidos da América. Padronizada na forma, finalizada de maneira rápida e, muitas veze,s na frente do cliente, que aguarda a entrega do produto salivando ao ser bombardeado pelos estímulos visuais presentes subliminarmente nos cardápios, folhetos e banners.  Pasteurizada, com sabor insosso e constante, quantidade satisfatória para lotar o estômago e com altíssimo teor calórico, este tipo de alimentação conquistou a preferência de muitos e elevou, consideravelmente, o sobrepeso da população, hipertensão arterial e outros problemas de saúde consequentes da má alimentação oferecida.

                As cadeias de restaurantes fast food encontraram no sistema de franquias a fórmula administrativa ideal para gerenciar e expandir os negócios mundialmente. Este fato tornou a alimentação globalizada, com quase nenhuma identidade local e nem, tampouco, absorvendo a produção agropecuária regional, o que induziu o uso intensivo de gêneros industrializados com excessos de conservantes e acidulantes, o qual exigiu uma produção rural acelerada e amparada pelo uso de defensivos agrícolas para manter as grandes plantações, e hormônios para estimular o crescimento dos animais criados em regime de confinamento.

O hambúrguer, a batata frita e os refrigerantes são os principais representantes deste enredo, embora haja franquias de massas, doces e comida internacional chinesa, japonesa, árabe, mexicana, italiana etc. O fato é que, mediante este crescimento da demanda de gêneros alimentícios, não houve tempo suficiente para o desenvolvimento de pesquisas agroindustriais que garantissem uma produção com qualidade nutricional adequada ao consumo humano dos alimentos. Saiba mais sobre este assunto assistindo ao documentário “Super size me” (2004), vertido para o português como “A dieta do palhaço”, que conta a experiência de um cidadão que resolveu fazer todas as refeições (café da manhã, almoço e janta) na mais difundida cadeia de restaurante fast food durante um mês, para autoconstatar as alterações corporais decorrentes desta absurda dieta. Para tanto, ele realizou uma bateria de exames clínicos antes e após a experiência. O resultado você já pode imaginar: 11 quilos a mais e um estado de saúde deficiente que, para sua total recuperação, demorou nove meses.

Na contramão desta tendência, resgatando o hábito de sentar-se à mesa com mais calma e tempo para degustar o alimento, saber sua procedência, história, significado é que vem o “Slow food” (comida lenta) – não necessariamente na sua forma de preparo, mas na trajetória percorrida desde sua origem, preferencialmente orgânica e sustentável, valorizando o pequeno produtor, os alimentos locais, a herança cultural, o sabor e o saber atrelados a eles.

Este movimento surgiu em 1986, na Itália, e em meados de 1989 tornou-se uma associação internacional com a filosofia de promover o alimento bom, limpo e justo. Bom nutricionalmente falando e, sobretudo no sabor; limpo na maneira de cultivo, sem prejudicar o ambiente e a saúde de quem os cultiva ou consome e justo, social e economicamente na valorização do produtor rural e artesanal. Ainda neste sentido, pronunciam que somos coprodutores e não meramente consumidores da produção alimentícia, uma vez tendo a informação de como são cultivados os alimentos, elaborados e efetivamente incentivando um consumo responsável e sustentável, nos tornamos parceiros nesta cadeia produtiva onde todos tem o direito fundamental ao prazer de comer bem e a consequente responsabilidade de defender a herança culinária, as tradições e culturas que tornam possível o prazer da alimentação saudável.

Não devemos forçar o ritmo da vida induzindo uma produção agropastoril acelerada! A arte de viver consiste em aprender a dar o devido valor e tempo às coisas em sua ordem natural e harmônica, capaz de conjugar o prazer e alimentação com a consciência e responsabilidade. Para tanto, a associação promove diferentes atividades, projetos, campanhas, manifestos que visam defender a biodiversidade, incentivar a cadeia de distribuição alimentar no mundo, difundir a educação do gosto e aproximar os produtores dos consumidores de alimentos, especialmente por meio dos eventos e iniciativas que o promovem. Você pode obter maiores informações sobre o Slow food na página web do movimento .

Mesmo que as franquias de fast food tentem mostrar, por meio de propagandas e promoções ou incorporando ao cardápio alimentos in natura - tais como saladas e frutas frescas, a mea culpa ainda não as redime nem ameniza o impacto causado pelas consolidação e mudança dos hábitos alimentares gerados na população. O que podemos fazer é nos policiarmos e buscarmos um tempo durante o dia para fazer uma refeição com qualidade, capaz de realmente nos restabelecer, restaurar e suprir nossas necessidades, não somente as nutricionais, mas também as de informação, arte e cultura. Fica a dica e um até mais, pessoal!


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