segunda-feira, 13 de maio de 2013

QUAL É A SUA CANÇÃO?



Eu estava preparada para iniciar com vocês uma conversa sobre a música, suas técnicas e possibilidades, quando lembrei que domingo é o Dia das Mães. Puxa! Não poderia perder a chance de relatar a vocês, especialmente às mamães, uma experiência musical que aconteceu em nossa família quando eu estava grávida da Tayná, nossa primogênita.

Todas as noites, meu marido cantava para minha barriga a mesma “musiquinha”. É uma música muito cantada para as crianças, especialmente nas igrejas. A música compara uma menininha como uma florzinha que canta.

Bem, eu achava esquisito meu marido “cantar para minha barriga”; na minha ignorante concepção – embora meu bebê já nos ouvisse – não acreditava que ele poderia entender o que seu pai estava fazendo. Quando eu, constrangida com a cena o indagava, ele dizia sorrindo, para eu dar licença, pois estava cantando para sua filha. Era para mim, mesmo sendo a musicista da família, algo estranho cantar para uma barriga, mas eu tentava não interromper aquela serenata e as conversas que a seguiam. Embora me sentisse envergonhada com aquela situação, talvez por minha imaturidade, pouca idade, no auge dos meus 20 aninhos... sei lá.

Quando minha filha nasceu foi uma alegria só. Aí estava a nossa “florzinha”. Após uns seis meses, mais ou menos, um dia, a professora que cuidava das crianças na igreja que frequentávamos me perguntou se costumávamos cantar para a Tayná. Eu disse que não era o costume, mas curiosa perguntei o porquê. A professora, eufórica, me disse que em uma determinada música a Tayná ficava muito feliz, balançava os bracinhos e sorria muito, tentando acompanhar a dinâmica da sala enquanto as demais crianças a entoavam. Pois é, era exatamente a mesma música que meu marido todas as noites cantava para sua florzinha plantada em minha barriga. Relacionamentos... Reconhecimento... Identidade... Comunicação... Amor!

Muito mais que sons, que linhas melódicas, a música servindo de esteio para o estabelecimento emocional de um ser humano. A música como fio condutor de identificação, dizendo quem ele é, que ele é amado, bem-vindo, que tem “o seu” um lugar entre nós.

A música faz parte do nosso meio mais intensamente do que podemos compreender e detectar. Ela embala as mais ricas experiências e, realmente, serve de trilha sonora para histórias maravilhosas, sendo capaz de estabelecer laços, trazendo comunicação onde as palavras não conseguem fazê-lo. Está conosco desde antes do nosso nascimento com lembranças dos sons produzidos pelos órgãos de nossa mãe e pelos seus batimentos cardíacos. Mostram ao bebê que ele faz parte de algo, tem identidade, é pertencente geográfica e afetivamente a um povo.

A poetisa Africana Tolba Phanem retrata em seu texto “Nossa Própria Canção”, também conhecido como “Canção dos Homens”, um mito que diz sobre a importância de se dar as pessoas uma identidade, dar honra e amor desde a concepção. O respeito que há quando reconhecemos o outro como o único dono de sua história, de “Sua Canção”.

Todos nós temos a nossa música essencial; aquela que, ao ser tocada, faz com que as pessoas nos reconheçam nela, pois relata nossa essência. E você, reconhece no meio de tantos sons a sua música? A sua história, a sua essência?

Link para canção: http://www.youtube.com/watch?v=5D9ZOaOArj0

Neila Fontão é formada em Canto Lírico pelo Conservatório Dramático e Musical de Tatuí "Dr. Carlos de Campos". Pianista e regente do CantAta Coral e educadora musical do Projeto Guri.

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