sexta-feira, 17 de maio de 2013

O espírito “materno" de Zaha Hadid



Nesta semana que começou com o dia das mães, pensei em escrever sobre uma arquiteta que, apesar de não evidenciar seu espírito materno, carrega consigo o principal sentido que as mulheres têm por natureza, o de mãe. Dizem por aí que as mulheres já nascem mães, mas não posso garantir que esse é o caso de Zaha Hadid. Entretanto, se filhos biológicos não fazem parte de sua hisória, Hadid, tem de sobra os filhos de “pedra”, e é uma cambada. São edifícios, móveis, utensílios e quadros espalhados por todo o mundo, por toda parte, de todos os tipos, mas para um único gosto. Aqui, neste artigo, me proponho a falar sobre Zaha Hadid e seu espírito “materno”.

Um dos principais nomes da arquitetura atualmente, Zaha Hadid não é só peculiar por ser a única mulher no circuito internacional da arquitetura. Iraquiana, nascida em Bagdá em 1950, Hadid formou-se em matemática antes de cursar arquitetura na prestigiosa Architectural Association em Londres. Sua formação foi agraciada por referências diversas, tornando a sua obra uma expressão cultural ampla e heterogênea em que se mesclam as raizes do mundo árabe e abstrações dos artistas suprematistas, passando pelo rigor da Bauhaus com as sugestões do informal e do pop, até a adesão ao modernismo com a energia relacionada aos conceitos matemáticos de campo e fluxo. Achou confuso? Então você entendeu o espírito do trabalho da arquiteta. Dividida entre a prática e academia, Hadid experimenta novos conceitos, frequentemente caminhado entre os campos da arquitetura, urbanismo, design e artes plásticas.
A arquiteta e um de seus experimentos: um vestido

Mas nem só de pose descolada para fotos e figurino alternativo sobrevive um bom arquiteto. Hadid constantemente usa seus desenhos e pinturas como instrumento de exploração do processo de projeto. Em muitos projetos, a arquiteta representa os conceitos por meio de telas inspiradas no suprematismo e mostra-se desde o início fascinada pelas vanguardas do século XX. Como aponta Guccione, “é esclarecedor o título de sua tese de graduação, Malevitch’s Tectonik, uma evidente referência à obra do mestre do suprematismo (Kazimir Malevitch, 1872-1935), que inspira o jogo de composição de uma estrutura coberta construída sobre o Tâmisa, a partir do exemplo da Ponte Vecchio em Florença”.

Malevitch’s Tektonik, 1976-1977, pintura.


The Peak, 1983, pintura

Seus projetos são classificados pelos críticos como fundamentais e indispensáveis representantes do movimento arquitetônico chamado desconstrutivista e chamam a atenção pelo singular modo de representação. Vencedora do Prêmio Pritzker, o  mais importante prêmio de arquitetura, Hadid tem um trabalho inovador e provocativo. Como escreveu uma das jurdadas do mesmo concurso, Ada Louise Huxtable: ‘A geometria fragmentada e a fluidez de Hadid fazem mais do que criar uma forma dinâmica e abstrada; o trabalho da arquiteta explora e expressa o mundo em que nós vivemos”. Sem muito medo das críticas, Zaha ainda se aventura com destreza no mundo do design e entre suas criações estão: sapatos para a marca brasileira Melissa; lanchas Z-boat e sofás para a B&B Itália.

fonte: dzeen.com


fonte: www.dzeen.com
fonte: www.dzeen.com
Seus edifícios também são carregados de uma carga expressiva. No MAXXI (Museu de arte do século XXI) em Roma, a arquiteta encaixa o prédio nas lacunas da cidade histórica de forma líquida e natural. A vocação do terreno é celebrada em um projeto que aparentemente é dissonante e abstrato, quando na verdade, parece pertencer ao local ao espalhar suas raízes. De certa forma, o edifício tem uma configuração fluida tanto externa quanto internamente.

fonte: www.archdaily.com
Ao entrar pelo saguão principal, o visitante logo é convidado ao passeio após visualizar com facilidade seus espaços contínuos. Numa experiência estética profunda, há quem diga que passear pelo museu não estimula apenas o sentido visual,  mas explora sensações térmicas e táteis. (Não posso confirmar tais informações já que não estive presente fisicamente no local).

fonte: www.archdaily.com
 E parece que Hadid faz o que faz com a certeza e consciência alimentadas pela sua cultura plural. Iraquiana e Londrina, matemática e arquiteta, Hadid não deixa dúvidas de que seu trabalho é um retrato de sua personalidade única. Nem sempre os filhos se parecem com os progenitores, no caso de Hadid, não restam dúvidas. É evidente que nos encanamentos de seus edifícios, corre sangue iraquiano. Para a arquiteta:

“a arquitetura deve oferecer prazer. Ao entrar num espaço arquitetônico, as pessoas deveriam  vivenciar uma sensação de harmonia, como se estivessem numa paisagem natural, para além das dimensões ou do valor econômico. Nisto consiste o meu conceito pessoal de luxo: é algo que não tem nada a ver com o preço, mas com as emoções que a arquitetura consegue transmitir. Basta pensar na praia de Copacabana: é um lugar maravilhoso, tem uma areia belíssima em grande escala para todos: este é o objetivo da arquitetura.” 

fonte: www.archdaily.com


Em entrevista a Hanno Rauterberg, a arquiteta completa:
“As pessoas ficam perguntanto se as mulheres trabalham diferentemente dos homens, Eu só posso dizer que não sei. Nunca fui homem. Entretanto, é óbvio que amaioria dos clientes não gosta muito de lidar com uma mulher. É preciso uma iraquiana para mostrar-lhes como.”


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