Não
me lembro desde quando são minhas imagens musicais. Sei que todas as cidades
onde morei, todas as amizades que tive e todos os momentos da minha história
até aqui trazem lembranças de um som, uma melodia. Memórias que outrora
deixaram saudade, agora estampam um sorriso em meu rosto sem ao menos que eu
perceba. Enquanto a música toca, também traz lágrimas aos olhos durante a
recordação.
O
que significa a música pra você? Você pode relatar sua história com alguma
“trilha sonora”?
Bem,
vamos lá ao que teoricamente aprendi. Aprendi que a música é a organização dos
sons de forma agradável e coerente ao ouvido. Com o passar dos anos, notei que
tal definição estava equivocada, ou pelo menos se referia ao ouvido específico
de algumas pessoas; não necessariamente todas achariam a mesma organização
musical agradável. O que é agradável
para mim não é, necessariamente, agradável para o outro e vice-versa. Constatei,
também, por meio de inúmeras experiências, que nem sempre a trilha sonora de
minha vida embalava algo doce e agradável do meu dia. Enfim, a música nos
rodeia até mesmo quando não a desejamos ouvir. Em tudo há trilha sonora. Nossas
atividades diárias estão permeadas por música.
Essa
forma de arte é uma prática muito antiga, servindo para funções diferentes, em
épocas diferentes, em povos diferentes, mas sempre sendo o fundo musical para diversas
atividades diárias dentro das sociedades mais antigas até os dias de hoje. Há
música para anúncios, para caçada, para enterros, para romance, para guerra,
para ninar um filho... Na História da Música vemos a evolução tanto na Música
Vocal quanto na Música Instrumental. A história nos revela que a música é outra
forma de linguagem, outra forma de comunicação e expressão humanas. Mas a que
fim ela se destina, já que nos dias de hoje temos tantos outros meios de
comunicação?
Você
já tentou imaginar um filme, uma cena sem a trilha sonora? Tente fazê-lo.
Assista à cena de um filme de sua preferência com o som e depois o abaixe
totalmente e observe o impacto da cena sobre você nas duas situações. Talvez
sem perceber, vai acontecer de você ouvir em sua mente, como “uma sombra”, a
trilha sonora mesmo com a cena do filme sem volume algum. Por quê? É porque a
música é algo que está inserido em nosso próprio corpo, sem que ao menos a percebamos!
O funcionamento de nossos órgãos, o batimento de nosso coração, o esbarrar de
nossa respiração sobre uma superfície produz som e esse som é feito de alturas
musicais (notas); sons mais graves, mais agudos, em tempos regulares ou não...
Isso é música!
Certa
vez, lendo um comentário sobre Charles Darwin e sua pesquisa, algo me chamou a
atenção. Darwin diz que a música determina a escolha de parceiros sexuais,
assunto de pesquisa até hoje. De forma prática, sabemos dessa afirmação, pois
todos temos na lembrança músicas que nos remetem a pessoas e a situações que
passaram por nossa história. Às vezes, andando pela rua ou num supermercado,
sem necessariamente ser um ambiente propício ao romantismo, ouvimos uma música
e imediatamente a imagem de uma pessoa, de uma cena, de uma época nos vem à
mente, tendo o poder de fazer surgir em nós os sentimentos mais variados:
tristeza, saudade, alegria, dor... A música tem sido um fator relevante dentro
da sociedade para as expressões relacionais entre seres humanos.
A
música tem esse poder de arrancar de dentro de nós, de maneira inesperada, sentimentos
que achávamos desaparecidos. Ela consegue nos fazer relaxados, agitados,
reflexivos, admirados, nos traz lágrimas aos olhos, bota um sorriso no rosto da
mesma forma, como um belo texto ou bela tela.
Há
uma frase de um importante dramaturgo russo chamado Anton Pavlovich Tchekhov que
diz: “O vinho e a música sempre foram para mim um magnífico saca-rolhas”. Assim,
a música tem o poder de abrir em nós a alegria e deleite também proporcionado
por um bom vinho.
Aceita
mais uma taça de música? Saúde e tim! tim!
Seja
bem-vindo!
Neila Fontão é Formada em Canto Lírico pelo Conservatório Dramático e Musical de Tatuí "Dr. Carlos de Campos". Pianista e regente do CantAta Coral e educadora musical do Projeto Guri.
Nenhum comentário:
Postar um comentário