Já que puseram a raposa para
cuidar do galinheiro, que venha a revolta das galinhas.
Por Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com
Gostaria de começar declarando
que não tenho nada contra o senhor pastor Marco Feliciano. Aliás, acho saudável
a diferença de opiniões; e, por valorizar a “diferença”, é que não podemos
aceitar qualquer postura ou ação que objetive a uniformidade, o monopólio, a
massificação do que quer que seja. Somos unos, indivíduos, portanto, por
natureza, DIFERENTES.
Faço duas distinções, antes de
prosseguir: o MARCO FELICIANO pastor e o MARCO FELICIDANO deputado federal.
Com relação ao MARCO FELICIANO
PASTOR, não me intrometo. Cada um segue a religião que quiser, funda a que
quiser, faz a interpretação que quiser da Bíblia, como bem achar direito. E,
mesmo com relação às interpretações pessoais, tudo é muito questionável, já que
são visões humanas. Se fosse o caso de entrar no debate bíblico, teológico,
hermenêutico, eclesiástico, como queiram chamar, elencaria vários tópicos que
desmontariam o “preconceito de Deus” (diga-se, dos homens que falam em nome
Dele) com relação aos gays, já que Deus é amor e esse grande amor, conforme
afirmado em João 3:16, é para TODOS AQUELES QUE CREEM EM DEUS. Não é dado por
homens, portanto, ninguém fica na dependência ou aval humanos.
Agora, do ponto de vista do MARCO
FELICIANO DEPUTADO FEDERAL, temos todo o direito de interferir, já que ele não
representa – ou ao menos não deveria representar – uma categoria social, uma
determinada classe religiosa, um grupo específico do Brasil. Antes, é um homem
público e representa o povo brasileiro. Nesse sentido, qualquer representante
do Estado brasileiro deve manter-se fiel ao princípio de dialogar com a
sociedade de forma isenta e responsável, sem fazer com que seus interesses – ou
do grupo que representa secularmente na sociedade – imperem sobre os anseios do
País, ou seja, de nós, brasileiros.
O DEPUTADO MARCO FELICIANO já deu
mostras públicas sobre o que pensa das minorias no Brasil. Em março de 2011, em
defesa do também controverso e preconceituoso deputado Jair Bolsonaro, afirmou
que a raça negra é resultado de uma maldição imposta sobre Canãa, neto de Noé e
que, por serem amaldiçoados, os negros africanos passam por tantos problemas,
como as doenças e a miséria que os afligem. Com os homossexuais, a postura não
foi muito diferente: “A podridão dos sentimentos dos
homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, à rejeição. Amamos os
homossexuais, mas abominamos suas práticas promíscuas”.
Talvez não tenha
falado nada sobre a população indígena porque esta já “está se acabando mesmo”,
porque não tenha relação direta em seu dia a dia ou porque não constituam
“ibope” suficiente para polêmica...
Talvez a opinião do
DEPUTADO MARCO FELICIANO em relação às mulheres é que “devem ser submissas a
seus maridos” e que, por terem sido tiradas da costela do homem, cabe a elas serem
colaboradoras, companheiras, coadjuvantes, já que “por trás de um grande homem
há sempre uma grande mulher”.
E por aí vai...
O que poderíamos
pensar de um homem – HOMEM PÚBLICO – que faz declarações tão desumanas e vis
publicamente? O que esperar do presidente da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias se, antecipadamente, declara não ter a menor preocupação com as
minorias, ou seja, com o ser humano? (Ou será que o referido deputado não
considera humanos gays e negros? Se for isso, justifica sua postura, mas não o
credencia para ocupar uma pasta que justamente pretende resgatar o direito de
igualdade de oportunidades e tratamento reservados A TODOS pela constituição
brasileira).
Indiferente das respostas,
indiferente das “defesas”, indiferente dos “argumentos” que o DEPUTADO MARCO
FELICIANO venha a utilizar para “justificar” sua presença na Comissão, não é coerente
que se coloque alguém para responder por uma Comissão tão importante quanto a
de Direitos Humanos e Minorias que tenha, publicamente, tais atitudes. É hora
de dizer basta, é hora “das galinhas se revoltarem contra raposa”.
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