Antonio
Luceni
aluceni@hotmail.com
Escrever é um ato de
solidariedade. Talvez seja esta a resposta. Talvez seja este o combustível que
alimenta minha produção.
Não poucas vezes me
perguntei sobre o porquê de eu escrever. Também não poucas foram as tentativas
de parar de escrever; achava (e às vezes isso ainda acontece) que não estava
trazendo nenhuma contribuição com o textos que produzo, com as palavras que
deixo registradas no papel. Talvez fosse um desperdício de árvores, talvez
fosse uma forma de engodo, de irresponsabilidade seduzir alguém para alguns
parágrafos que, no final, não lhe acrescentar nada.
O exercício de escrever
é, por vezes, ingrato. Obrigatoriamente faz com que a gente se isole, mergulhe
por um tempo em pensamentos e questões que, em tese, só interessam a nós mesmos,
estritamente a quem se põe a escrever. Depois, quando as palavras lançadas
ganham corpo e forma, quando achamos que estão prontas para andar sozinhas, as
encaminhamos para um editor de jornal, blog ou para alguma editora que as
continue conduzindo para (sabe Deus) os mais diferentes caminhos. Agora, com os
vários portais na internet, até longos caminhos, outros países, e por aí
adiante...
Mas, de novo, as
questões e dúvidas sobre o peso que as palavras têm, sobre as contribuições
dadas ou não pela nossa escrita. De fato, há escritores muito mais
interessantes que eu, há muitas outras narrativas que valem muito mais atenção que
as que escrevo, há construções sintáticas e linguísticas, há temas e reflexões
muito mais salutares que as minhas... então, prezado leitor, sugiro que
abandone imediatamente este texto e vá em busca delas, de autores infinitamente
mais significativos que eu.
Agora, livre do peso da
responsabilidade de prender quem quer que seja nestas linhas vãs, coloco-me, de
fato, ao meu ofício de escrever. Ou seja, escrevo para um deleite pessoal; escrevo
porque, assim como Van Gogh e Portinari não podiam deixar de pintar, assim como
Gaudí não deixou um só minuto de pensar num mundo em que a natureza construída
se relacionava com a natureza natural e estas diretamente com o homem, como
Frank Sinatra não podia deixar de cantar um só dia, escrevo para me fazer
perceber neste mundo, para me fazer existir, ainda que com pensamentos rasos,
com crenças e certezas fluidas, diluídas por cada experiência com a qual entro
em contato, com singelezas que me fazem mudar de ideia.
Escrevo porque preciso
dividir, apesar do pouco que tenho, minhas ideias com meus irmãos, porque na comunhão
de pensamentos, busco um caminho melhor para suportar e pensar este mundo, para
expor minhas limitações e, quem sabe, fazer com que alguém se identifique com
elas e, tal qual a mim, não se sinta só em suas fragilidades, fraquezas...
Antonio Luceni é mestre em Letras e
escritor. Membro e Diretor de Integração Nacional da União Brasileira de
Escritores – UBE.
Me fizeste lembrar de um poema de Antonio Cícero:
ResponderExcluirGuardar
" Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre fechado não se guarda nada.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la,
mirá-la por admirá-la, isto é,
iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la,
isto é, fazer vigília por ela,
isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro,
do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se publica,
por isso se declama e se declara um poema:
para que ele, por sua vez, guarde o que guarda,
guarde o que quer que guarde um poema.
Por isso o lance do poema:
por guardar-se o que se quer guardar. "
Lindo poema, Rafael... dialoga perfeitamente com o sentimento do que escrevi. Obrigado por acompanhar.
ResponderExcluirAbraços cordiais,
Antonio