segunda-feira, 21 de maio de 2012

Afasta de mim este "CALE-SE"!


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Não é preciso de muito esforço mental para citar algumas dezenas de casos na história da humanidade em que “falar o que se pensa” foi retribuído com hostilidade, com violência e até com morte. Peguem-se, aí, povos da antiguidade ou cristãos, pensadores e estudiosos, estudantes, mulheres, negros, professores... Da nossa história recente, citemos o período da Ditadura Militar, em que vários de nossos patrícios sucumbiram e, até hoje, estão no anonimato. Ventilam, inclusive, uma tal “Comissão da verdade” para que algumas almas sejam acalmadas com relação ao destino que pais, mães, irmãos, maridos e mulheres tiveram nesse momento horroroso.
Falo todas estas coisas porque, na semana passada, uma pessoa da minha relação profissional veio me procurar e dizer que se sentiu diretamente ofendida com o artigo que escrevi (“Pra que facilitar?”, disponível em http://www.antonioluceni.blogspot.com.br/2012/05/pra-que-facilitar.html). Respondi que não escrevia por qualquer motivação, não fossem situações que primeiro me incomodam e que mexem diretamente comigo. Honestamente, ela seria a última pessoa (se tivesse alguma escala para isso) a partir da qual eu me motivaria escrever o que escrevi.
Como exercício da democracia e do direito de se pronunciar, sugeri então que ela produzisse um artigo refutando meus argumentos sobre a “burocracia que engessa e emburrece”, que eu o publicaria na íntegra, nesta coluna, no dia de hoje. Como isso não aconteceu, e como não queria deixar este espaço em branco, em respeito a você, leitor, estou fazendo mais esta reflexão.
Querem tirar tudo da gente: nossa dignidade como ser humano (quantos não têm o que comer no dia de hoje e vão sair de casa em casa, ir ou ligar em algum programa de televisão, dirigir-se a algum bandejão ou departamento de assistência social para suplicar um pedaço de pão); nossa energia (trabalhamos mais de quatro meses durante o ano, segundo especialistas, só para pagar impostos); nossa autoestima (o quanto temos que enfrentar e lutar na sociedade para mostrar que somos capazes, que temos condições de realizar algo etc., etc., etc.); entre tantas outras coisas, que não podemos deixar que roubem o mais essencial, a meu ver, no ser humano que é a condição de raciocinar, PENSAR e, é claro, poder dizer o que pensa e sente.
Evidente que nem sempre gostamos de ouvir o que ouvimos de alguém. Às vezes, a crítica ou mesmo a reflexão (como foi o caso do que escrevi, já que não dirigi o texto especialmente para esta ou aquela pessoa ou instituição) não é por nós digerida, não “desce bem”. Mas é necessário que o debate das ideias aconteça, que as questões sejam revisadas sob diferentes pontos de vistas, que tenhamos maturidade no processo democrático e estejamos abertos aos questionamentos e ponderações e, a partir desse exercício de tese e antítese, os envolvidos nele façam sua síntese, tirem suas próprias conclusões.
NÃO à mordaça da ditadura. NÃO à censura ao debate de ideias. NÃO a tudo aquilo que cristaliza nosso pensamento. NÃO aos monopólios, sejam eles quais forem.
Afasta de mim este “CALE-SE”!

Antonio Luceni é Mestre em Letras e Escritor. Membro e Diretor de Integração Nacional da União Brasileira de Escritores – UBE.

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