Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com
Não é preciso
de muito esforço mental para citar algumas dezenas de casos na história da
humanidade em que “falar o que se pensa” foi retribuído com hostilidade, com
violência e até com morte. Peguem-se, aí, povos da antiguidade ou cristãos, pensadores
e estudiosos, estudantes, mulheres, negros, professores... Da nossa história
recente, citemos o período da Ditadura Militar, em que vários de nossos
patrícios sucumbiram e, até hoje, estão no anonimato. Ventilam, inclusive, uma
tal “Comissão da verdade” para que algumas almas sejam acalmadas com relação ao
destino que pais, mães, irmãos, maridos e mulheres tiveram nesse momento
horroroso.
Falo todas
estas coisas porque, na semana passada, uma pessoa da minha relação
profissional veio me procurar e dizer que se sentiu diretamente ofendida com o artigo
que escrevi (“Pra que facilitar?”, disponível em http://www.antonioluceni.blogspot.com.br/2012/05/pra-que-facilitar.html).
Respondi que não escrevia por qualquer motivação, não fossem situações que
primeiro me incomodam e que mexem diretamente comigo. Honestamente, ela seria a
última pessoa (se tivesse alguma escala para isso) a partir da qual eu me
motivaria escrever o que escrevi.
Como exercício
da democracia e do direito de se pronunciar, sugeri então que ela produzisse um
artigo refutando meus argumentos sobre a “burocracia que engessa e emburrece”,
que eu o publicaria na íntegra, nesta coluna, no dia de hoje. Como isso não
aconteceu, e como não queria deixar este espaço em branco, em respeito a você,
leitor, estou fazendo mais esta reflexão.
Querem tirar
tudo da gente: nossa dignidade como ser humano (quantos não têm o que comer no
dia de hoje e vão sair de casa em casa, ir ou ligar em algum programa de
televisão, dirigir-se a algum bandejão ou departamento de assistência social
para suplicar um pedaço de pão); nossa energia (trabalhamos mais de quatro
meses durante o ano, segundo especialistas, só para pagar impostos); nossa
autoestima (o quanto temos que enfrentar e lutar na sociedade para mostrar que
somos capazes, que temos condições de realizar algo etc., etc., etc.); entre
tantas outras coisas, que não podemos deixar que roubem o mais essencial, a meu
ver, no ser humano que é a condição de raciocinar, PENSAR e, é claro, poder
dizer o que pensa e sente.
Evidente que
nem sempre gostamos de ouvir o que ouvimos de alguém. Às vezes, a crítica ou
mesmo a reflexão (como foi o caso do que escrevi, já que não dirigi o texto
especialmente para esta ou aquela pessoa ou instituição) não é por nós
digerida, não “desce bem”. Mas é necessário que o debate das ideias aconteça,
que as questões sejam revisadas sob diferentes pontos de vistas, que tenhamos
maturidade no processo democrático e estejamos abertos aos questionamentos e
ponderações e, a partir desse exercício de tese e antítese, os envolvidos nele
façam sua síntese, tirem suas próprias conclusões.
NÃO à mordaça
da ditadura. NÃO à censura ao debate de ideias. NÃO a tudo aquilo que
cristaliza nosso pensamento. NÃO aos monopólios, sejam eles quais forem.
Afasta de mim
este “CALE-SE”!
Antonio Luceni é Mestre em Letras e Escritor. Membro e
Diretor de Integração Nacional da União Brasileira de Escritores – UBE.
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