segunda-feira, 16 de abril de 2012

Sobre o sabor do saber

Antonio Luceni

 
Que a escola vive uma crise sem precedentes, não há como negar; falar sobre isso é “chover no molhado”. Que devemos buscar modelos para diminuir o desgosto de se ensinar e aprender, também, é algo do senso comum. Que a escola que nossos pais – e que nós mesmos – frequentavam já é coisa do passado, é ponto passivo.

Então, qual modelo adotar? O que devemos fazer para que nossos filhos e alunos sintam no ato de ir e frequentar a escola o gosto pelo sabor do saber? As respostas não são fáceis, mas também não residem em “outro mundo”.

É comum ouvirmos de crianças, adolescentes e jovens o “eu não gosto de ir para escola”. Já ouvi depoimentos de pais que dizem que seus filhos de quatro ou cinco anos têm verdadeira aversão quando é chegada a “hora do colégio”.

É claro que aprendemos com o mundo. É claro que a escola não é o lugar, ou ao menos o único, em que o aprendizado se dá de forma sistematizada em nossas vidas; sobretudo na atual sociedade com a internet, com tantos cursos a distância, com tantos e-books, celulares conectados ao mundo, com tanta troca de informações entre as pessoas.

Aquela escola, lembra?, detentora de todas as informações e conhecimentos, onde o professor era seu principal guardião e que, arbitrariamente, repassava estes saberes em doses homeopáticas, já não convence mais. (Não poucas vezes escutei que “este assunto não é dessa série” de minhas professoras primárias, só porque fazia umas perguntinhas um pouco mais desafiadoras “para série”).

Pois é, “aquela escola” já não nos pertence mais. As coisas mudam, os tempos mudam, as pessoas mudam. Uma criança que nasce numa época como a que estamos vivendo, com tantas parafernálias tecnológicas, com um caldeirão de informações à sua volta não vai querer ficar à espera do “gotejamento do saber” que a escola insiste em passar. Uma criança que já nasce quase falando – você já parou para observar o quanto nossos bebês estão cada dia mais espertos? – não vai querer se submeter a ficar quatro ou cinco horas sentada numa cadeira e mesa desconfortáveis, olhando para nuca do colega, enquanto o mundo lá fora gira, propõe uma série de questões interessantes, muda de paisagem com suas cores, ventos, formas e cheiros...

Há várias escolas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo que podem servir de modelo para que a escola retome a condição do saber com sabor. Esses modelos são grandemente difundidos pela mídia internacional e constantemente objetos de matérias em revistas especializadas em educação, participação em congressos e seminários da área, além de terem suas portas abertas para visitas de pesquisadores do mundo todo. Só a título de exemplo, podemos citar os casos de Reggio Emília, na Itália, a Escola da Ponte, de José Pacheco, em Portugal, ou mesmo, Escola da Vila, em São Paulo, entre outros.

O que falta, então, a meu ver, é vontade política do Estado brasileiro e da sociedade de modo geral (educadores, pais, alunos etc.) para implantar em nosso sistema educacional formas que propiciem uma educação significativa e com sabor.

Ou será que é o “angu sem sal nem açúcar” a comida que querem oferecer, deliberadamente?

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Membro e Diretor de Integração Nacional da União Brasileira de Escritores – UBE.

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