quinta-feira, 12 de abril de 2012

LÚCIO


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

As histórias que ouvimos dele, passadas por avós, tios e tias e até pela mãe, é de uma criança que, assim como milhares de outras no nordeste brasileiro, desde cedo aprendem o que é sofrer.
Lata d’água na cabeça de uma criança com apenas cinco ou seis anos de idade, léguas e mais léguas a pé para comprar um produto de primeira necessidade, o alimento parco do dia a dia. As brincadeiras são deixadas de lado para as horas vagas, para quando houver tempo, já que há muito trabalho e poucos trabalhadores.
As roupas são gastas... na verdade os primeiros anos de vida são como de bicho bruto, ou seja, a própria pele é a vestimenta. Moscas e mosquitos são companhia constante. A gente já nasce sabendo que qualquer hora irá morrer, ninguém precisar chegar a esta conclusão pra gente.
Como tantas outras crianças também, foi criado na garapa; uma água mal adoçada, esquentada no fogão de lenha, em substituição ao leite, artigo de luxo para muitos em terra tão hostil como a que ele viveu.
Quase não houve tempo para o estudo: inicialmente foi alfabetizado pela própria mãe, em condições precárias, em sala de aula improvisada, sem livro, nem caderno ou lápis que merecessem estar numa escola. Depois, foi completando os estudos aos poucos: num ano porque o trabalho o impedia, noutro porque já não tinha mais ânimo para prosseguir, e em um outro os retomou porque tomou consciência da importância da escolaridade na vida da gente. Até hoje é um eterno aprendiz. Quer fazer faculdade. E disse que é de Matemática.
Nas andanças da vida, foi encaminhado para um casamento – ou ajuntamento, é melhor – que não foi lá grandes coisas. O saldo positivo foram os filhos, que foram e são seu maior combustível para trabalhar, perseguir algum alvo e deixar-lhes abrigados, e uma outra sorte na vida conjugal. É verdade que não estão vivendo do modo como esperava, mas é preciso que a vida continue.
Já faz uns dois anos que ele encontrou um novo motivo para viver. Foi também nesse tempo que ele encontrou um outro motivo para sonhar e renovar suas esperanças. Ficou mais jovem nesse período, voltou a sorrir com mais frequência, está até mais bonito por conta desse seu novo amor.
Neste final de semana irá formalizar esse novo momento, esse novo marco em sua vida. Irá se casar. Dessa vez, de fato: com cerimônia, padrinhos, roupa na estica (que quase deixa a gente doido na hora de escolher a cor, a camisa com a qual conjugar e tudo o mais), uma festa para todos com os quais irá dividir sua alegria.
O nome dela é Célia. Uma mulher que encantou a todos nós com seu jeito objetivo e autêntico de ser. Que com maestria também conduziu uma família sozinha que, tal qual o Lúcio, é batalhadora, tem metas boas na vida e que também tem o direito de ser feliz.
O que posso desejar para vocês, meus irmãos, é que sejam muito felizes, que tenham uma vida de respeito e de carinho e que, daqui para frente, sejam cada vez mais unidos e cúmplices em tudo o que fizerem.
Feliz casamento para vocês dois. Boa sorte daqui para frente, Lúcio. Você merece.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Diretor de Integração Nacional da União Brasileira de Escritores – UBE.

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