segunda-feira, 5 de março de 2012

35

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

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Enquanto estou na casa dos “trinta” ainda me relaciono bem. O problema para mim é imaginar a dos “enta”. Quarenta, cinquenta, sessenta, setenta... Aí a gente não sai mais dela. E o engraçado é que quero viver bastante. O lado de lá é duvidoso, incerto... e, ainda que tenhamos alguma fé, sempre estremecemos com a ideia de fechar os olhos definitivamente e passarmos para o outro plano. Ao mesmo tempo que mantemos um espírito de retidão, da ética, do bom senso e filantropia, somos humanos e cometemos os nossos erros, não é mesmo? Aí fica a dúvida: Será que esse ou aquele errinho será relevado na hora “h”?

Bromélia rosa

Ele chegou com um vaso enorme, uns laçarotes com papel celofane lilás, tudo combinando com o tom da flor, que despontava magnífica por entre as folhas da planta, rajadas tal qual tigres novos. Não me lembro de ele ter dado flores para ninguém. Nunca o vi dar flores nem para minha mãe. O presente era coletivo: dele, da mulher e da filha. Mas a lembrança foi dele. A escolha foi dele. Então, fiquei feliz em ter sido presenteado com flores pelo meu irmão que nem liga tanto pra essas delicadezas da vida. É, as coisas vão sendo alteradas mesmo. Mas a Letícia foi quem reclamou os louros: “Fui eu que comprei pra você!”.

Não tenho nada pra te dar

Como pode imaginar isso? Não sabe ela que é meu maior presente? Já não disse por dezenas de vezes que minha maior motivação, que meu sentido último para correr atrás de tudo, para continuar lutando e buscando melhor colocação social e intelectual é para prover-lhe o melhor que posso, uma melhor condição de vida? Meu melhor presente é a presença dela em minha vida.

Às espreitas feito um vulto

Ele foi todo de preto. Os cabelos pretos, num tom de Colorama do qual desconheço numeração; camisa preta risca-de-giz por fora da calça, como de costume; uma calça jeans azul marinho que se misturava ao negro das outras peças e um sapato mal lustrado, também preto. Ficou o tempo todo por ali, ora conversando com meu avô, ora saindo pra rua e arrumando pretexto para não ficar com a gente, até que desapareceu. Gostaria de entendê-lo melhor, percebê-lo neste modus vivendi que adotou como seu. Será que é feliz assim? Será que é o seu jeito de amar sua família?

Já estão bem velhinhos

Fui buscá-los logo cedo. Já estavam prontos: malinha na mão, caixas com os remédios do dia e um sorriso no rosto como cartão de visitas costumeiro. A idade já lhes faz curvar-se um pouco. O tom de voz já tem que ser mais alto para poder compreenderem o que falamos. Amo muito esses velhinhos. São meus segundos pais.

Por falta de dois, foram três

Sabe aquela coisa de estar junto? Foi somente isso. Precisava de representantes do meu lado fraterno, das minhas relações de amizade. E eles foram. Chegaram atrasados, mas foram. E lá ficamos durante uma boa parte da tarde.

Para não falar que não os citei

Meus outros irmãos e cunhadas também foram. Mas como cronista, os fatos que me chama a atenção é os que são descritos. Mas para não falar que não falei de vocês...

Para mim, foi um dia pra lá de especial. Não sou de comemorar aniversário, não. Mas faço questão de estar com minha família e amigos. Afinal, é a única coisa que levamos dessa vida e as únicas coisas que nos fazem ter apego por este plano.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Membro e Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

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