segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ATÉ QUANDO?

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Até quando iremos conviver com a injustiça e o flagelo sociais e fecharemos os olhos para nossos semelhantes, estendendo-lhes a mão vez ou outra com um mísero trocado devolvido num bar ou lanchonete?
Até quando vamos nos achar “os melhores da terra” só porque promovemos esta ou aquela festa de caridade, este ou aquele sopão nos finais de semana, enquanto o povo pena o ano todo, comendo migalhas, enfrentando ônibus lotados, sujeitando-se aos sistemas públicos precários de saúde, educação, assistência social e outros?
Até quando vamos nos contentar com perfumarias culturais que privilegiam este ou aquele grupo social, a rigor de toga passada, com cheiro de naftalina, visto ser usada somente uma vez por ano para fins de coluna social?
Até quando vamos nos associar a políticos corruptos, delegando a eles poderes por meio de nossos votos e, durante todo o mandato, sequer cobrarmos deles atitudes mais corajosas com relação à melhoria das condições materiais e imateriais de nossa cidade?
Até quando iremos ficar anestesiados frente ao desespero de pais e filhos que veem seus entes queridos serem arrancados de seu meio por causa da violência e do tráfico de drogas, infelizmente, tão presentes na sociedade de hoje?
Até quando vamos cruzar os braços ou balançar os ombros diante do preconceito, seja por conta da cor da pele, da orientação sexual, das condições financeiras, das limitações físicas ou intelectuais, do credo religioso ou de qualquer outra prática que faz do ser humano algo único, individual, especialmente útil e distinto em sociedade?
Até quando nossas crianças, adolescentes e jovens vão ficar perambulando pela cidade ou trancafiados dentro de suas casas porque não têm atividades de esporte e arte para praticarem e, quem sabe, fazer disso desejo futuro com práticas sociais mais humanas, mais produtivas, mais solidárias, mais criativas e saudáveis?
Até quando nossos jovens deixarão de ser encarados apenas como “o futuro” de nossos País e terão maior envolvimento nas políticas públicas e grupos sociais a que pertencem, opinando, dirigindo ações e definindo os modos de vida e como seus bairros e cidades precisam ser?
Até quando nossas famílias morarão em lugares perigosos, submetidos a toda sorte de intempéries, desprovidas de uma casa que possam chamar de sua, com praças e outros equipamentos nos quais usufruam do final da tarde brincando com seus filhos ou dos finais de semana desfrutando da sombra de uma árvore e da companhia dos vizinhos?
Até quando ficaremos órfãos das letras, sem bibliotecas nos bairros ou com elas sucateadas em escolas, sem acesso diário ou aos finais de semana, e sob a boa vontade de alguém que detém “as chaves do conhecimento”?
Até quando ficaremos cristalizados, vendo os preços subirem diariamente, impostos e mais impostos sendo criados ou aumentados seus valores e o salário cada vez mais baixo e insignificante?
O certo é: quanto mais tempo demorarmos para agir, mais escravos deste sistema capitalista imperialista seremos. Quem quer mudar esta realidade?

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Membro e Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

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