segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O PALHAÇO


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com



Melancólico, mas não dramático.

Cômico, mas não espalhafatoso.

O filme “O palhaço”, com direção de Selton Mello e atuação dele próprio com Paulo José nos papéis principais, é um daqueles filmes que a gente não sabe se ri ou se chora – ou se faz os dois ao mesmo tempo.

Os contrastes estão presentes o tempo todo no filme: a tristeza com a alegria, o choro com o riso, a penumbra com a claridade, a velhice com a infância, a frustração com a esperança...

“Esperança” é o nome da trupe que sai Brasil à fora em busca de fazer os outros rirem e, conforme pergunta Benjamin, personagem de Selton Mello, “quem irá fazer agente rir”? A resposta está no próprio nome do circo: esperança. É a esperança de que pode haver um mundo melhor, com pessoas mais desprovidas das vaidades exageradas, com pessoas que interpretem papéis mais amenos e doces, mas que também não deixem de ser humanas com suas qualidades e erros, com suas limitações.

Várias imagens me vieram à mente enquanto assistia ao filme. Uma delas foi pinturas de Magritte, quando se retrata de costas, sem identidade alguma. E não é que “identidade” é uma outra palavra forte no texto? Sim, porque é em busca de sua “identidade”, metafórica e literalmente falando, que Benjamin criará um hiato de envolvimento com o grupo para, depois, retornar triunfalmente.

Há, ainda, a presença constante da imagem de “ventilador” costurando todo o filme. E é justamente nos momentos de maior tensão (e também de alívio) que o tal, ou tais, ventilador irá aparecer. De parede, de teto, portátil, grande e pequeno... Mas ele, Benjamin, não consegue comprá-lo. Não tem identidade para, se quer, pagá-lo a prestações. Mas um homem precisa ter um ventilador.

Um ventilador para arejar as ideias. Um ventilador para aliviar o calor que faz a gente suar, passar mal, ficar com a cabeça quente. É preciso um ventilador para sacudir e levar a poeira para bem longe e destampar nossas narinas, aliviar nossa visão. É preciso um ventilador para fazer girar as ideias, fazer girar o mundo também.

Hoje tem espetáculo? Tem, sim senhor! E que espetáculo! Um filme simples, com atores para lá de especiais, num pedaço de terra simples das Gerais. Um espetáculo de fotografia: as cenas são meticulosamente enquadradas, coloridas de modo a destacar os aspectos poéticos do filme. Um espetáculo de interpretação: Selton Mello e Paulo José foram envolvidos numa química muito intensa na feitura do filme. Em ambos os atores, a emoção à flor da pele. Talvez no velho ator com maior intensidade, mas o contraste com a tenacidade do jovem ator e o intercâmbio de experiências é o que traduz no que se constitui o filme.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Membro e Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

Nenhum comentário:

Postar um comentário