sexta-feira, 16 de setembro de 2011

FORMAÇÃO AEE - SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DE ARAÇATUBA


Manhã dinâmica, a de hoje, com as professoras do AEE (Atendimento Educacional Especializado) da Secretaria Municipal da Educação de Araçatuba/SP.

Na manhã de hoje, 16/09/, na Escola Municipal "Francisca de Arruda Fernandes", ministrei uma palestra sob o título "Literatura Infantil: um texto especial para crianças especiais" para um grupo de professoras do Sistema Municipal de Ensino de Araçatuba, AEE (Atendimento Educacional Especializado).

Foram feitas considerações referentes a utilização da Literatura Infantil e Juvenil como instrumento de inclusão e de autoidentificação.

Gostaria de agradecer publicamente o envolvimento do grupo de profissionais que lá estiveram. Professoras engajadas no trabalho com Educação Especial e que têm dedica suas vidas para fazer diferença de forma positiva na vida das famílias e, especialmente, das crianças que por elas passam.

Parabéns à Márcia, à Elaine e à Patrícia que tão diligentemente conduzem as ações da Rede nesse sentido.

ROTEIRO DE DISCUSSÃO:

Literatura infantil: um texto especial para crianças especiais

Por
Antonio Luceni é graduado em Letras (Unitoledo), pós-graduado em Ensino do Texto (Unesp) e mestre em Letras (UFMS). Escritor, diretor da União Brasileira de Escritores – UBE, é autor de, entre outros, Júlia à procura da consciência perdida e Com quantos chapéus se faz um Chapeuzinho e coordenador dos Projetos de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da Secretaria Municipal de Educação – Araçatuba/SP.

Literatura infantil: um texto especial...

Todos sabemos que o texto literário é um texto especial. A linguagem empregada pelo escritor ou poeta num texto literário/estético distingue-se das demais linguagens utilizadas por nós (didática, jornalística, pragmática, científica etc...).

Desse modo, pela sua própria natureza, o texto literário soa aos nossos ouvidos, mostra-se aos nossos olhos, impregna-se aos nossos dedos, cola-se ao nosso cérebro de forma muito particular. A rigor, quando entramos em contato com o texto literário, adentramos a um outro universo, a uma outra sintonia a que não estamos acostumados. Daí o estranhamento frente ao texto estético. Daí as emoções, sensações e sentimentos ganharem outra dimensão em nossas vidas, a ponto de a gente chorar ou rir, ficar alegre ou triste, reflexivo, com raiva etc., etc., etc...

Quando o texto literário aparece na sala de aula, na vida de nosso aluno, ou simplesmente, da criança ou adolescente vai mexer com ele, vai tirá-lo da “sintonia” costumeira e lançá-lo numa rede de sensações que lhe serão muito particular e a partir das quais enxergará o mundo sob uma outra ótica.

Vejamos este exemplo a fim de ilustrar o que foi dito antes:

1)      O corpo humano é uma mistura de elementos químicos feita na medida certa. As partes do corpo humano funcionam de maneira integrada e em harmonia com as outras. Os principais órgãos do corpo humano são: Baço, Bexiga Urinária, Célula, Cérebro, Coração, Dentes, Esôfago, Esqueleto, Estômago, Faringe, Fígado, Glândulas Salivares,  Intestino Delgado,  Intestino Grosso, Laringe, Pâncreas, Pulmão, Rins, Sangue, Traquéia, Vesícula Biliar... (texto retirado da internet)

2)      “O imperador Carlos Magno, já em avançada idade, apaixonou-se por uma donzela alemã. Os barões da corte andavam muito preocupados vendo seu soberano entregue a uma paixão amorosa que o fazia esquecer sua dignidade real e negligenciar os deveres do Império. Quando a jovem morreu subitamente, os dignitários respiraram aliviados, mas por pouco tempo, pois o amor de Carlos Magno não morreu com ela. O imperador mandou embalsamar o cadáver e transportá-lo para a sua câmara, recusando separar-se dele. O arcebispo Turpino, apavorado com essa paixão macabra, suspeitou que havia ali um sortilégio e quis examinar o cadáver. Oculto sob a língua da morta encontrou um anel com uma pedra preciosa. A partir do momento em que o anel passou às mãos de Turpino, Carlos Magno apressou-se em mandar sepultar o cadáver e transferiu seu amor para a pessoa do arcebispo. Turpino, para fugir àquela embaraçosa situação, atirou o anel no lago Constança. Carlos Magno apaixonou-se então pelo lago e nunca mais quis se afastar de suas margens.”

(Narrativa popular a respeito de Carlos Magno, sintetizada por Ítalo Calvino)

... para crianças especiais.

Primeiro caberia aqui discutir o que seria uma “criança especial”. Penso que todos tenhamos todas nossas crianças como “crianças especiais”. Todas, de algum modo, têm suas carências e necessidades especiais, seja no campo físico ou mesmo no afetivo.

É lógico que não queremos aqui maquiar uma situação nem fugir à questão. Não. Mas a provocação é justamente no sentido de olharmos para crianças (e qualquer pessoa, já que adultos também são vítimas de preconceitos sob os mais variados temas) como seres POTENCIAIS, ou seja, com uma enorme força vital, uma verdadeira “potência” dentro de si que precisa ser explorada, maximizada, aproveitada, prestigiada e VISTA.

E, na literatura, isso tudo é possível. Justamente pelo fato de a literatura não ficar restrita a esse ou aquele círculo, a essa ou aquela classe social ou categoria de pessoa, isto é, pelo texto literário ser DEMOCRÁTICO e dialogar com quem quer que se aproxime dele é, por isso mesmo, um excelente INSTRUMENTO de autoidentificação, de emancipação, de vivências que TRANSFORMAM o olhar e o entendimento do leitor a respeito de si mesmo e de tudo que o rodeia.

Texto base: Literatura Infantil e Diversidade: construindo caminhos para a inclusão escolar.
Danielle Medeiros de Souza e Marly Amarilha (UFRN)

“... Natureza transdisciplinar do texto literário...” (p. 1)

“... Perpassam a formação do professor-leitor, a função social da leitura de Literatura e sua democratização, diante de novas necessidades que emergem do cenário educacional.” (p. 1)

“... explorar a inclusão escolar, (re)conhecendo a Literatura Infantil como um caminho significativo para a resolução de problemas que se inserem nos dois polos do processo educativo: ensino (...) aprendizagem...” (p. 1)

“... O processo de inclusão (ou integração total) implica na adaptação da instituição escolar para atender às necessidades especiais dos alunos na sala regular.” (p. 2)

“... o profissional da educação pode perceber o ensino de leitura e Literatura como prática necessária aos alunos que possuem necessidades educacionais especiais.” (p. 2)

“... cenário democrático de personagens e linguagens diferentes, espaço de abordagens inusitadas dos aspectos do cotidiano, lugar de vivenciar experiência catártica. Considerando essas particularidades da linguagem literária, entendemos a necessidade de um estudo sistematizado de suas contribuições para uma compreensão mais aprofundada acerca da diferença entre os sujeitos que compõem o âmbito educativo, percebendo o texto literário como meio privilegiado para promover o ambiente inclusivo que tanto se almeja.” (p. 2)

“... coloca-se a favor do texto literário (...) o desenvolvimento psíquico e compreensão dos conflitos na infância. (...) ‘imagens à criança com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida’”. (p. 3)

“De modo específico, a Literatura atende a uma necessidade dos alunos especiais ao contribuir com a formação de sua identidade.” (p. 3)

“... o texto literário é um dos caminhos para o autoconhecimento, pois embora se remeta a personagens distantes e animalescos, sempre nos enviam ‘por refração’ uma imagem de nós mesmos, a cada momento de identificação na leitura, nos ajudando, com muita propriedade a aprender o que se passa dentro de nós.” (p. 3)

“... a literatura infantil (...) ao tratar com profundidade de problemas da vida, torna-se um veículo privilegiado para tratar de articulações entre Literatura e Educação Inclusiva, pois traz a discussão dos conflitos humanos de maneira única e expressiva e funciona como ‘portas que se abrem para determinadas verdades humanas’”. (p. 3)

“... nos referimos a obras que possuem qualidade literária...” (p. 4)

“Os textos a que a tradição reserva o nome de literatura, embora nascendo de uma elite e a ela dirigidos, não costumam confirmar-se às rodas que detêm o poder. Transbordam daí e, como pedra lançada às águas, seus últimos círculos vão atingir as margens...” (p. 4)

“Assim,  texto literário desponta a possibilidade de educar para incluir, pois como bem dissemos, a diversidade encontrada nessa manifestação da língua abre para o espaço para vozes excluídas, socialmente.” (p. 4)

“...a Literatura como terreno transdisciplinar que possibilita o conhecimento da realidade humana e uma ‘vivência simbólica de caráter problematizador, político e criativo”. (p. 4)

“...a Literatura é fundamental para um trabalho consciente e crítico de inclusão escolar.” (p. 4)

“...função libertária e desencadeadora de experiências...” (p. 4)

“...Literatura como um ‘instrumento útil, que oferece aos indivíduos com necessidades especiais a possibilidade de formação intelectual, necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades.” (p. 5)

“...as possibilidades de inclusão escolar a partir dos contos literários, valorizando seu caráter polissêmico na subversão de padronizações, na inserção do diferente e na ruptura com o processo de produção dominante de sentidos sociais.” (p. 5)

“A literatura infantil pode ser o cerne da construção de uma educação inclusiva, pois operando a partir de sugestões fornecidas pela fantasia e imaginação, socializa formas que permitem a compreensão dos problemas e demonstra-se como ponto de partida para o conhecimento real e a adoção de uma atitude que valorize as diferenças e as particularidades.” (p. 5)

“...a Literatura brinca com os desejos do leitor, promovendo uma análise de sua condição individual, provocando sua subjetividade. Essa reflexão em torno da própria condição é introspectiva e, portanto, essencial em uma proposta de educação inclusiva.” (p. 6)

Dinâmicas para reflexão de conceitos:



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