domingo, 21 de agosto de 2011

Não quero mais pensar


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Sabe de uma coisa: não quero mais pensar!
É, a decisão foi dura, mas está decidido: não quero mais pensar.
Por que não? Porque não, oras! Pensar dói, tira a gente do lugar comum, faz a gente refletir sobre perguntas e respostas, coloca a gente no canto da parede até a gente tomar uma decisão. Aí começam todos os problemas. Sim, porque quando a gente decide, às vezes não agrada todo mundo. E os que ficam descontentes vêm logo reclamando, exigindo coisas, fazendo a gente... pensar! E aí começa tudo de novo: a gente pensa, pondera, decide, agrada e desagrada, é encurralado e o ciclo vicioso não para.
Por isso está decidido e não volto atrás: não quero mais pensar!
Outro dia, vejam vocês, eu estava pensando na maneira como os políticos, em sua maioria, administram o Brasil. Uns vieram do nada, sabe aquela coisa do fundo do sertão, do interiorzão de Deus, lá onde os Judas enterrou as meias... pois é, de lá mesmo, e, de repente, ficam milionários, com apartamentos de luxo, casa de praia, carros blindados, lanchas que mais parecem suítes presidenciais. E como conseguiram? Trabalhando. Trabalhando? Como, minha gente? Sem contar nas notícias que a gente lê e vê diariamente. E o que é pior: enquanto isso, gente morrendo em filas de hospitais, crianças indo a óbito desnutridas, idosos largados feito bichos aí pelos cantos do Brasil.
Fiquei também pensando nas ordens das coisas nesse País – e aí podem até chamar meu discurso de senso comum, discurso raso, como quiserem... porque a realidade dos fatos não é mudada pelo nome dado a ela. Por exemplo, um pai de família ganha pouco mais de quinhentos reais de salário mensal para cuidar, às vezes, de três, quatro, cinco ou seis pessoas, com água, luz, comida, sem contar roupa, calçado, material escolar e tudo o mais que deveria ser considerado básico na vida de qualquer ser humano. De outro lado, um presidiário custa mais de mil e quinhentos reais por mês para o Estado, ou seja, para o nosso bolso e a família dele recebe algo próximo de oitocentos reais mensais. Nessa lógica, o criminoso é mais valorizado que o cidadão de bem.
Fiquei pensando no verdadeiro “lixão” que é a televisão aberta brasileira. Arma e instrumento de manipulação de massas em que o Estado, os empresários e aproveitadores, em grande parte, usam e abusam para continuar a política de “pão e circo”, objetivando a alienação de grande parte da população brasileira, desviando-a de sua natureza vital: ser pensante e dotado de capacidades para discernir o bem e o mal, o que vale a pena e o que é somente perfumaria, produto de “cabresto”.
Fiquei pensando nos muitos discursos e promessas de uma “educação melhor”, de valorização do magistério, de formação de bons professores, do incentivo à pesquisa e à produção científica, quando professores têm que sair de madrugada de casa e permanecer na rua em três turnos, para depois chegarem em casa e preparar aulas, corrigir um calhamaço de provas e bur(r)ocracias que só servem para alimentar traças.
Fiquei pensando na quantidade de dias e mais dias gastos, debruçado sobre uma mesa ou frente a um computador, perdendo sono, alimentando-me mal e rapidamente para poder entregar trabalhos em dia, e todo ano uma abocanhada medonha de imposto de renda e outros tantos “is” que mais desanimam do que nos estimulam a continuar nesse ritmo.
Fiquei pensando e, por isso mesmo, desisti de pensar em tantas coisas porque nos irrita, porque sabemos as respostas, mas quem faz as perguntas só quer perguntar, não quer respostas coisa nenhuma. Querem é que a gente vá pra p... que p... (A mãe deles, por certo).
Por isso está decido, mais do que decido, definido, registrado em cartório, assinado em três vias, com caneta Mon Blanc bico de pena: não quero mais pensar. (Ao menos por enquanto!).

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor. Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

2 comentários:

  1. Adorei o texto Antonio. Sabe que muitas vezes me pego pensando (rs) que é por demais aflito pensar tanto nesse país...Parabéns pelo texto!

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  2. Obrigado, Ana Claudia pelo carinho... continue prestigiando o blog e indicando pra seus contatos.

    Antonio

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