domingo, 24 de julho de 2011

COISIFICAÇÃO DO HOMEM


Antonio Luceni
 

Estive na semana passada no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, Minhas Gerais. O Museu de Artes e Ofícios – MAO – é um espaço cultural que abriga e difunde um acervo representativo do universo do trabalho, das artes e dos ofícios do Brasil. Um lugar de encontro do trabalhador consigo mesmo, com sua história e com o seu tempo. Ele está instalado na Estação Central de Belo Horizonte, por onde transitam milhares de pessoas diariamente. É assim, um espaço coerente com a natureza da coleção, bem próximo ao trabalhador.

Para abrigar o Museu foram restaurados dois prédios antigos, de rara beleza arquitetônica, tombados pelo patrimônio público. A sua implantação incluiu ainda a recuperação da Praça da Estação, marco inaugural da cidade.

Uma peça do acervo, particularmente, chamou minha atenção: uma balança gigante que era utilizada para pesar escravos. Isso mesmo. Assim como, ainda hoje, você vai à feira e pede três ou quatros quilos de tomate, chuchu ou coisa assim, também nós, brasileiros, em algum momento de nossa recente história podíamos comprar semelhantes nossos por peso, pela quantidade de dentes que tinham, idade, robustez etc... Quanto mais saudável, melhor.

Falar desse modo, de forma solta, sei lá, com quantos milésimos de segundo para pronunciar o fato, não é tão doloroso assim, mas é necessário um ponto final a fim de parar e refletir na cena.

(............................................................ Esse tempo é para você pensar.)

Pensou? Já se imaginou na balança, com gente te tocando, erguendo lábios e socando dedos em sua boca pra analisar dentes, apalpando seu corpo todo pra verificar se não há chagas, dores e tudo o mais?

A falta de respeito não é bom para ninguém. Há os que pensam que o desrespeito, a intolerância, a coisificação humana é problema de quem sofre a agressão e que, por isso mesmo, cabe ao atingido falar, manifestar-se, agir. Não é assim não.

Lembro-me agora de uma ação terrível contra um pai e filho que foram confundidos com um casal de homossexuais. A “justificativa”: acharam que eram homossexuais, daí a agressão.

Não acho que é preciso sentirmos na pele o que quer que seja para agirmos. Deveria ser comum a todos nós, indiferente da religião, nacionalidade, sexo, idade, classe social, carreira..., a postura de nos indignarmos frente ao desrespeito, à intolerância, à falta de humanidade de qualquer natureza. Para o bem de TODOS NÓS.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

Um comentário:

  1. Nunca podemos perder nossa capacidade de nos indignarmos frente às injustiças e agressões cometidas contra o mundo e aos humanos. Bem lembrado Professor!

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