domingo, 10 de abril de 2011

VOSSA EXCELÊNCIA, VIOLÊNCIA

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Fiquei pensando esta semana sobre o que escreveria. Na verdade a gente pode escrever tanta coisa, não é mesmo? Mas sempre busco refletir sobre as coisas do meu dia a dia, as que me trazem algum aprendizado, que modificam meu olhar.
Estava propenso refletir um pouco com você, leitor, sobre as infelizes declarações (para não agir como ele, falando sem pensar) do deputado federal Jair Bolsonaro (PP). Primeiro ele afirmou no programa CQC que não admitiria um filho se casar com uma negra porque isso era “promiscuidade”.
Depois, o “tão corajoso” Bolsonaro, desdisse o que disse com medo de processo (e de até perder o mandato) por racismo e saiu atirando contra os homossexuais, que não estão sob proteção da lei por serem o que são.
E, em seguida, em discurso na Câmara dos Deputados, tentando se remediar mais uma vez, declarou: “Eu quero crer que foi um erro meu...”. Ou o cara não bate bem da cachola ou é um frouxo mesmo. Nem ele acredita no que ele fala. Nem ele se suporta.
Aí veio “mais do mesmo” com gente nossa, de Araçatuba, o Michael do Vôlei Futuro. Humilhado e exposto nacionalmente no jogo em Belo Horizonte, contra o Cruzeiro de Minas. Coisa feia, mineirada. Logo vocês, povo reconhecido como recatado, como ordeiros, como “na de vocês”. Agora, eu é que quero crer que isso não é sentimento de todos que estavam ali, mas fruto de uma “emoção exagerada”, para buscar eufemismo comportado.
Mas o troco veio de casa, e no mais alto nível. Uniformes especiais contra a homofobia, torcida com adereços em rosa (lógico que uma metáfora) para protestar contra os arruaceiros mineiros. E, após um jogo apertado em que nosso Vôlei Futuro nem mostrou o seu máximo, a dupla vitória: de toda equipe com o placar do jogo e, principalmente, com o desempenho do Michael. É, aquele mesmo que foi achincalhado em Minas Gerais.
Minha gente, em pleno século XXI, continuar com essa baboseira de preconceito? Uma hora “porque” é negro, outra hora “porque” é gay, depois “porque” é nordestino, mais adiante “porque” é albino, um pouquinho mais “porque” é pobre... “porque”... “porque”... por quê? Porque o homem (alguns deles pelo menos) é egoísta e não suporta o diferente. Tudo que fere o padrão estabelecido pelos “deuses da verdade” apavora, atrapalha, macula.
É lógico que o caso do assassinato das crianças no Rio de Janeiro também me chocou muito. Quando tomei consciência do fato fiquei anestesiado, mas com dor. Dor em pensar nas circunstâncias em que o episódio aconteceu: numa escola, com crianças e adolescentes sem defesa, numa sala fechada, sem ao menos poderem reagir. Não bastasse o descaso a que a Educação está submetida neste país, ainda mais uma cena dessa ocorrendo na escola. É pra chocar mesmo.
Como não estão se sentindo as famílias dos mortos? Como não estão passando cada uma das crianças e adolescentes que vivenciaram essa grave tragédia? Que sentimento não estarão tendo professores, coordenadores e direção daquela escola? Medidas enérgicas precisam ser tomadas contra os que contribuíram para que esse infeliz episódio acontecesse: vendendo as armas e munição do crime, treinando o assassino, não denunciando o algoz à polícia.
Em cada um dos fatos citados antes, a violência como protagonista. Nos dois primeiros, travestida de intolerância, de preconceito, de egoísmo (e não se esqueçam os eleitores do tal Bolsonaro que ele os representa). No último uma violência mais direta, nua, crua, em sua mais elevada potência.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE.

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