domingo, 30 de janeiro de 2011

PARA O BEM DE TODOS NÓS

Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Existe um filme, prezado leitor, chamado Perfume: a história de um assassino, do diretor Tom Tikwer, de 2006, a partir do qual tomo uma cena. O filme é iniciado com uma daquelas imagens medievais, com cenário cinza, meio lúgubre, numa feira de peixes (observe que tipo de “odor” costurará o filme).
Em meio à venda de peixes, uma mulher entra em trabalho de parto e, como de costume naquele contexto, agacha-se e pari a cria ali mesmo, na sarjeta insalubre, junto com tantos outros lixos, pois assim o rebento era considerado. O menino é salvo pelo grito. Um grito de choro que faz despertar a condolência de um transeunte. A mãe vai à forca e o recém nascido, Jean-Baptiste Grenouille, vai para uma espécie de orfanato, mas de escravos mirins. Daí pra frente, quem se interessar, veja o filme.
Quis retomar e descrever esta cena porque, guardadas as proporções, ainda há rebentos sendo tratados como lixo diariamente no mundo. Ainda me chocam cenas – como a denunciada nesta semana em Araçatuba, em que uma garotinha de apenas quatro anos foi morta à paulada – em que crianças ficam à mercê da própria sorte.
Ainda me entristece, por mais bem intencionados que sejam, a criação de estatutos de defesa disso ou daquilo. Ora, pra que os estatutos são feitos? Pra que as leis de defesa de minorias são criadas? Por que em pleno século 21, em um País que tem a pretensão de ser a quinta potência mundial, necessitamos de leis que protejam nossas crianças, idosos, negros, homossexuais, mulheres...?
O que adianta ser um País de “primeiro escalão” financeiro, se estamos ainda afundados nas mais grotescas e primitivas relações humanas? Há que se pensar num ranking mais coerente que leve em conta tanto o progresso econômico quanto humano. Aliás, o primeiro, a meu ver, deve estar subordinado ao segundo, que é mais importante.
E estas questões todas passam pelo crivo político. Só se é capaz de humanizar gente com educação e cultura, não há outra forma, com justiça social, portanto. E isso tem que sair do discurso apologético e ir para uma prática urgente e eficiente.
Tantos falam da importância da Educação. Tantos acham cultura um negócio lindo. Todos querem ver o País crescer. Mas o que, na prática, temos feito para isso? Quais são as reais ações que nos fazem acreditar que isso será possível?
Enquanto isso o mundo gira, o pulso, ainda pulsa e, infelizmente, passamos a ver com tanta frequência a violência em nossas vidas (pela televisão, rádio, jornais, revistas e internet) que fica a sensação de que ela é necessária, de que em sociedade “é assim mesmo”, que é normal.
Não, não é normal. Não, não devemos nos conformar. Sim, é preciso mudar. Para o bem de nossas crianças, para o bem de nossos velhos, para que a diferença seja aplaudida ao invés do monótono e uníssono som das coisas. É preciso que entremos numa sintonia diferente da que estamos vivendo, para o bem de todos nós.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Coordenador Regional do Núcleo UBE Araçatuba e Região.

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