sábado, 30 de maio de 2009

GUERRA E PAZ


Antonio Luceni
aluceni@hotmail.com

Guerra e paz? Guerra ou paz?
Confesso que fiquei pensando nas duas propostas acima. Aliás, sempre estamos encurralados nesses dilemas da vida. Por falta de uma, sempre nos são dadas duas, três ou mais opções. Às vezes isto é bom. Outras vezes, não tão bom assim. Guerra e paz lembram um pouco desses temperos da vida: ying e yang, bem e mal, Deus e diabo, santo e pecador, eterno e efêmero, doce e salgado... Guerra e paz formam, portanto, os dois lados da mesma moeda. Dois lados necessários. O que seria do bem se não houvesse o mal para contrastá-lo? O que seria dos santos se não houvesse os pecadores? Machado de Assis propõe esta idéia quando sugere “ao vencedor, as batatas!”.
Guerra ou paz? Um maniqueísmo solidário. Um determinismo utópico. Um programa a ser atingido. Para que guerras? Para que mortes? Para que órfãos da guerra? Para que viúvas da guerra? Uma paz eterna, num paraíso eterno com vida eterna, pelos séculos dos séculos... “Não existe um caminho para paz. A paz é o caminho.”, dizia Gandhi. Ou ainda para os mais burocratas e céticos: a guerra é a higiene do mundo.
Em 2007 comemoramos 40 anos dos painéis “Guerra” e “Paz” de Candido Portinari, instalados na sede da Organização das Nações Unidas – ONU, em Nova Iorque.
O próprio Portinari não teve oportunidade de vê-los instalados, por razões políticas. Não o deixaram em paz! Como ironia do destino, os painéis que propunham uma reflexão aguda sobre os benefícios e malefícios de um ou de outro gesto (guerra e paz) residem justamente no país das muitas guerras e de pouca paz.
Como tenho insistido repetidamente nestas linhas, somos artífices e escritores da nossa própria história. Pintamos, também, nossos painéis particulares de guerra e de paz. Elegemos nossas cenas prediletas, elencamos nossos atores, decidimos o formato das obras, sugerimos cores e formas, esboçamos expressões e delimitamos espaços. Às vezes, ficamos horas na dedicação de uma ou de outra obra. Canalizamos mais ou menos energia para este ou para aquele trabalho.
Oxalá todos tivessem oportunidade de pintar lindas telas, com singulares cores, de diferentes formas, sob um olhar produtivo e enriquecedor. Como Portinari, oferecêssemos a nações briguentas, a vizinhos bélicos, a grupos mais alterados obras de paz (de guerra, não!), com crianças brincando, corais cantando, mães amamentando, e todos em perfeita harmonia com seus semelhantes.

Divagação: Prefiro os amarelos nas pinturas de Portinari. Por que tanta gente escolhe o preto para suas pinturas?

Antonio Luceni é Professor Universitário, Diretor de Cultura de Araçatuba/SP e Escritor. Entre outros livros, é autor de “Júlia à procura da consciência perdida”, Academia Araçatubense de Letras.

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